As startups unicórnios são empresas avaliadas em mais de um bilhão de dólares. Um dos principais diferenciais delas é ter a inovação em seu DNA. Convidamos o Edson Machado, responsável pelo Ibmec Hubs, em São Paulo, para explicar quais fatores ajudam essas empresas se transformarem em um grande fenômeno no mundo dos negócios. Confira a entrevista:
Qual é a importância das startups que se tornaram unicórnios para a economia?
De acordo com a Abstartups, a expectativa é que o Brasil tenha 100 unicórnios em 2026, atualmente temos 22. As startups contribuíram com o aquecimento do mercado, nos dois últimos anos, já que tivemos a pandemia de Covid-19, que impulsionou alguns negócios ligados à tecnologia. As empresas tiveram que se movimentar e investir em inclusão digital, o que ajudou o ecossistema de startups. Muitas pessoas empreenderam.
Outra questão que também explica esse fenômeno é a quantidade de capital em busca de um investimento de alto retorno. Os unicórnios dão muito ritmo para a nova economia, devido ao seu perfil de crescimento rápido e o de promover a entrada em novos mercados.
Ainda vale lembrar que no ano passado as taxas de juros próximas a zero contribuíram com a busca por investimentos de risco que trouxeram retornos bem interessantes. Algumas startups que se tornaram unicórnios em 2021 e podemos destacar são C6 Bank, MadeiraMadeira, a Único, a Hotmart, Olist, entre outras.
Por que alguns cases de unicórnios se sustentam e dão super certo e outros não?
Há alguns exemplos bem conhecidos que podemos citar. Como o caso da MadeiraMadeira que no ano passado recebeu um aporte de US$ 190 milhões. Em contrapartida, temos a LojasKD, que fechou as portas em 2018 depois de um processo de recuperação judicial. As duas são do mesmo segmento e provavelmente um conjunto de fatores contribuiu pelo sucesso de uma e o fracasso da outra. Nesse caso, alguns dos problemas estão ligados à logística, falta de gestão financeira e a de estratégia de negócio, por não conseguir levantar o capital necessário para lidar com uma crise financeira.
Uma empresa de consultoria americana, a CB Insights, identificou por meio de uma pesquisa de mercado que muitas startups foram a falência desde 2018 porque ficaram sem dinheiro ou não conseguiram levantar mais capital. Outra questão importante, o produto ou serviço não tinha necessidade de mercado.
No Brasil temos uma realidade um pouco similar, muitos empreendedores enfrentam dificuldades para levantar capital. Além disso, muitas startups estão com muito foco na solução e não no problema a ser resolvido. Por fim, é preciso ter um bom alinhamento entre os sócios, investidores e empresas, além de um time bem treinado.
Não é uma receita de bolo, mas notamos que startups que têm negócios bem definidos, boa administração, cultura organizacional e sabem fazer gestão de pessoas, são aquelas que tiveram sucesso e êxito em seus produtos ou serviços.
Houve um tempo em que a empresa “unicórnio” era considerada e celebrada como uma grande aposta no mercado. Esse movimento, de certo modo, deu uma abaixada. O que aconteceu?
O ambiente de negócio brasileiro é complexo e muito dinâmico, o que contribui muito com a ascensão das startups. O mercado de consumo cria uma diversidade de negócios que pode ser interessante para os investidores. Além disso, temos muitas inovações tecnológicas que permitem criar soluções e serviços. Então, sendo assim, temos um mercado com muita abertura para inovações e um ambiente com muito empreendedores. Alguns segmentos têm tido mais sucesso como os de serviços financeiros, saúde, tecnologia, entre outros.
Na verdade, o que ocorreu é que alguns unicórnios colocaram o pé no freio no seu ritmo de crescimento, até devido ao aumento de juros – o que deixa alguns investidores mais seletivos. Agora eles estão focando mais em resultados, visando melhorar suas vendas e por consequência a margem de lucro. Precisam aumentar o tamanho das receitas em relação aos custos.
Alguns unicórnios brasileiros não estão em crise, mas sim estão passando por ajustes operacionais, também fizeram aquisições, o que fez com que eles revissem o papel ou a diminuição de algumas áreas das empresas. Faz parte do jogo.
Como definimos se aquela startup não é mais uma e se tornou algo maior, uma empresa propriamente dita? É possível delimitar isso?
De modo geral uma empresa deixa de ser uma startup a partir do estágio em que o seu modelo de negócio se torna escalável e sustentável, ou seja, ela deixará de ser uma startup e passará a ser uma empresa lucrativa.
O que uma empresa precisa ter, quais fatores contam, na hora de ser encarada como um possível unicórnio? Quais setores estão em alta?
A startup precisa ser reconhecida como uma empresa com grande potencial para ser tornar escalável. É necessário que o seu modelo de negócio seja consistente, tenha impactado o mercado de maneira significativa, com soluções realmente eficientes ou produtos que solucionem os problemas dos clientes. As startups ligadas aos segmentos de tecnologia, agronegócio, educação e mercado financeiro têm alcançado bastante sucesso.
Edson Machado, é coordenador do Ibmec Hubs em São Paulo e também responsável pelo CEI – Centro de Empreendedorismo e Inovação.