Startups performam melhor que negócios tradicionais na pandemia

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A chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil trouxe desafios para todos os empreendedores do país. Mas entre aqueles habituados a inovar, o impacto foi bem menor. De acordo com um levantamento feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) — enviado com exclusividade ao EXTRA —, enquanto apenas 13% dos pequenos negócios tradicionais não tiveram perdas de faturamento neste período, 32% das startups conseguiram este alívio nos resultados. E 13% ainda tiveram alta em seus saldos mensais.

Participaram da pesquisa 833 negócios, tendo 58% deles mais de quatro anos de existência no mercado.

— Verificamos com isso o quanto as startups, por meio da inovação, mesmo tendo dificuldade de crédito, conseguem aumentar seus faturamentos até em cenários de crise. Essas startups, inclusive, foram motivadoras de indução digital para outras empresas e, por isso, foram muito procuradas neste momento — avalia o presidente do Sebrae Carlos Melles.

Saiba mais: Startups se reinventam na pandemia

É o caso da Ubots, startups fundada por Rafael Souza, que opera desde 2016.

— No Brasil, 99% dos aparelhos celulares têm WhatsApp instalado. Se é nosso aplicativo de comunicação preferido, é natural que a gente queira conversar com as empresas por ele também. Então, nós temos uma plataforma de atendimento digital a clientes que liga grandes empresas a aplicativos de mensagem como esse — explica Souza, que viu o volume de clientes da Ubots crescer: — A pandemia exacerbou essa vontade dos clientes finais, pois mesmo no setor bancário, alguns que iam numa agência resolver seus problemas, por exemplo, não podiam mais.

Desde abril, mês a mês, o faturamento da Ubots cresce 25%, em média.

Filipe Pires, coordenador do MBA em Finanças do Ibmec/RJ, avalia:

— As empresas tradicionais atuam em mercados maduros. Já startups são empresas que trabalham em cenário de risco para levar soluções a públicos muito específicos; portanto, elas não têm muita concorrência, e é muito difícil que seu nicho deixe de ter essa necessidade. Além disso, normalmente são empresas que utilizam muita tecnologia. Então, viraram a chave para o home office, como foi necessário fazer na pandemia, muito rapidamente, enquanto para outros pequenos negócios, isso pode ser inviável, como no caso de um salão de beleza. Da mesma forma, por conta dos seus modelos de negócios, as startups enxergam oportunidades e reagem mais rapidamente a momentos de crise.

Estabilidade de funcionários foi maior

A startup Digitalk criou um novo produto, que colaborou para seu crescimento na pandemia, conta o fundador e CEO Estanis Quevedo:

— Temos uma plataforma em nuvem para empresas que, com inteligência artificial, captura e entende a jornada do cliente. Ou seja, ela sabe se 30% das vezes que um cliente faz contato é para reclamar algo e que ele é uma potencial perda. Mas, neste momento de pandemia, desenvolvemos um segundo projeto, para áreas de RH, em que a plataforma é voltada à comunicação com os profissionais. Serve para elucidar problemas tecnológicos, tirar dúvidas, falar sobre anseios e, quando constatados problemas psicológicos mais grave, os casos são levados para atendimento.

Após dois anos e meio de operação, a startup saiu de 22 clientes para 47 durante após o início da pandemia. E o time de colaboradores saltou de 22 pessoas para 37.

Segundo a pesquisa do Sebrae e da Finep, durante a pandemia, 16% das startups contrataram profissionais. Enquanto 36% das pequenas empresas tradicionais precisaram demitir colaboradores. Entre as inovadoras, o índice foi menor: 24%.

Mas elas não ganham em todos os aspectos. Apesar de startups terem procurado mais as instituições em busca de crédito (52% contra 39%), apenas 9% receberam uma resposta positiva, contra 16% dos outros negócios.

Pandemia assustou investidores

Para empreendedores que haviam planejado iniciar sua startup este ano, a pandemia pode ter sido um balde de água fria. Uma pesquisa realizada no fim de março pela Anjos do Brasil, uma organização de fomento ao investimento no país, mostrou que 64% dos investidores pretendiam diminuir o investimento em startups nos próximos 18 meses. No entanto, o impacto tem sido menor do que o esperado.

— Em maio, junho e julho a gente percebeu a retomada de interesse dos investidores, com uma visão mais positiva. Claro que o momento atual tem um impacto, mas o “investidor-anjo” entra num negócio pensando em ficar 5, 6, 7 anos. Então, pode ser que a startup não cresça tanto este ano quanto se esperava, e talvez o momento exija um pouco de preparo a mais dos empreendedores, mas eles vão continuar captando — afirma Maria Rita Espina Bueno, diretora-executiva da Anjos do Brasil.

Para quem pretendia começar do zero a startup em 2020, o conselho da executiva é: comece, mesmo que o cenário não pareça o ideal.

— Às vezes, quando o empreendedor vai começar a testar o negócio, não precisa de tanto dinheiro. E esse é um momento de muito aprendizado e oportunidades. Muitas tendências estão sendo aceleradas, como a telemedicina, que foi regulamentada e deu espaço para startups.

Fonte: Extra

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