Ouro de tolo? Bitcoins, criptomoedas e blockchain

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Tempo estimado de leitura: 6 minutos

O que você precisa saber antes de se aventurar nessa área

A aplicação de novas tecnologias em produtos e serviços financeiros tem mudado nossa relação com o dinheiro, como investimos e como consumimos. Nesse cenário, é comum ficarmos confusos com novos termos, cuja compreensão é fundamental para aproveitarmos ao máximo as inovações financeiras e, ainda, compreender os riscos envolvidos. Em uma série de textos para o Ibmec Insights, convidamos professores do Ibmec para ajudar você a entender o significado de conceitos como bitcoin, blockchain, criptomoedas, criptoativos, smart contracts e fintechs, bem como entender a aplicação de tecnologias como machine learning e big data no mercado financeiro.

Isac Costa

Nesse primeiro texto, conversamos com o professor Isac Costa sobre bitcoin e blockchain e reproduzimos a seguir algumas respostas às principais dúvidas sobre o tema.

Por que o bitcoin se tornou tão popular?

O bitcoin foi “lançado” em 2009 e foi ganhando popularidade de modo gradual, especialmente a partir de 2013, chegando a ter um pico de valorização em 2017, sendo tema de uma série de editoriais de revistas especializadas como a The Economist. A tecnologia surgiu com a promessa de viabilizar transações financeiras sem o controle de bancos ou de Estados. Depois, houve um aumento significativo do volume de transações, incluindo negócios especulativos, chamando a atenção de autoridades monetárias e de regulação do mercado de capitais, que começaram a discutir formas de lidar com essa inovação. Nesse momento, as pessoas estão procurando investimentos alternativos, especialmente no Brasil com taxas de juros em mínimos históricos. Assim, o bitcoin e outras criptomoedas têm despertado o interesse do público em geral.

Qual a diferença entre bitcoin e blockchain?

Blockchain – literalmente, “cadeia de blocos” – é o nome dado à dinâmica de funcionamento do bitcoin e de outras criptomoedas e criptoativos. Também é utilizada a expressão “tecnologias descentralizadas”. Os dados relativos às transações não são armazenados em um banco de dados centralizado, mantido por uma empresa ou por uma autoridade estatal.

Na rede de participantes – denominados nós (nodes) – e alguns deles detêm uma cópia do registro de transações. As regras de comunicação nessa rede são definidas por um protocolo – no caso, o protocolo Bitcoin, que tem o mesmo nome que o ativo digital que circula pela rede. Outro exemplo de protocolo é o Ethereum, no qual circula a criptomoeda ether.

O sr. poderia explicar como funcionam as transações com bitcoins?

Para que Ana faça uma transferência para Beatriz, uma mensagem é enviada aos participantes da rede e é iniciado um processo de verificação para saber se Ana e Beatriz são realmente quem afirmam ser e, ainda, se Ana tem saldo suficiente para realizar a transação. Diferentes mensagens como esta são enviadas e agrupadas pelos membros da rede e, periodicamente, eles resolvem um problema matemático que lhes autoriza confirmar as transações e escrevê-las no registro distribuído. Esse processo é denominado mineração. O participante-minerador que consegue resolver o problema é remunerado pela própria rede, ganhando novos bitcoins e também pelas taxas de processamento estipuladas pelas partes da transação.

À medida que as transações são realizadas, as cópias são atualizadas e sincronizadas. Além disso, esta base de dados descentralizada não exige que você se identifique, você pode utilizar apenas um “pseudônimo”, um código associado à sua carteira (wallet). Esta é uma vantagem significativa para algumas pessoas, mas, infelizmente, permite a transferência de valores decorrentes da prática de atos ilícitos.

Transações com bitcoins são realmente seguras?

Graças à criptografia assimétrica, as partes podem ser identificadas com segurança e é garantida a integridade das mensagens, isto é, há segurança de que seu conteúdo não foi adulterado ao longo do caminho percorrido. Uma vez inserida a transação em um bloco, a possibilidade de “alterar o passado” é muito baixa – fala-se em imutabilidade do registro.

Toda a segurança é implementada por meio de chaves criptográficas – cada usuário tem a sua chave privada, a partir da qual é gerada uma chave pública e endereços, que são códigos para a realização de transações.

Um usuário pode “perder” a sua chave privada ou deixar que alguém a acesse – nesse momento, perde o controle sobre seu saldo, à semelhança de alguém que perde a senha de seu cartão do banco. Apesar desse risco, se forem adotadas as melhores práticas para acessar a rede (recomendo que o leitor pesquise sobre a distinção entre hot wallet e cold wallet), as chances de problemas são reduzidas.

O bitcoin irá substituir o dinheiro?

Moeda é um conceito econômico para qualquer ativo que exerça as funções de unidade de conta, meio de troca e reserva de valor. Ainda, moeda também é um conceito jurídico – apenas com o uso de moeda fiduciária alguém consegue honrar suas obrigações. Fala-se, ainda, em curso forçado, isto é, o Estado obriga todos os seus cidadãos a aceitarem a moeda de sua emissão.

Portanto, embora o bitcoin e outras criptomoedas possam exercer as funções econômicas de moedas, só poderíamos cogitar de uma substituição plena do dinheiro se sua adoção fosse indiscriminada e, ainda, se o Estado a adotasse como moeda oficial, por meio de lei. Atualmente, há discussões sobre central bank digital currencies, iniciativas de vários países para desmaterializar a moeda, com algumas semelhanças em relação às criptomoedas. Mas nunca devemos esquecer: o bitcoin tem em seu DNA a independência do Estado e do sistema financeiro internacional.

Onde as pessoas podem procurar maiores informações para começar a negociar?

É preciso ter cuidado quando alguém fala em “investir em bitcoin”. É difícil analisar os fundamentos econômicos desse ativo, pois não há uma companhia responsável pela sua emissão. Fazer previsões sobre o movimento dos preços de qualquer ativo é uma tarefa bastante difícil e essa complexidade é dramática no caso do bitcoin, em razão de sua alta volatilidade. Portanto, recomendo cautela na hora de definir quando será alocado nesse tipo de investimento e, sobretudo, evitar cair em esquemas fraudulentos como pirâmides financeiras.

Dito isso, você pode comprar e vender bitcoins com qualquer pessoa que participe da rede (modelo peer-to-peer) que tenha reputação de ser um bom negociador ou, o mais recomendado, por meio de exchanges. Você pode encontrar no site CoinMarketCap uma lista de todas as criptomoedas e criptoativos que existem e também das exchanges nos quais são negociados esses ativos, lembrando que são instituições ainda não reguladas – se você perder dinheiro por falhas operacionais ou fraudes, não terá a quem reclamar.

Para saber mais, recomendo ao leitor o artigo “Você tem alguns minutos para ouvir a palavra do blockchain?” do qual fui coautor e será publicado em breve pela Editora Almedina na coletânea “Crypto Law: Inovação, Direito e Desenvolvimento”. O texto pode ser acessado aqui.

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