O mau desempenho das pesquisas e a divisão do país

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Erros reforçam ideia de que mídia norte-americana é partidária

Por Adriano Cerqueira, professor de Relações Internacionais do Ibmec-BH

O resultado da votação popular na eleição presidencial deste ano nos Estados Unidos revelou que Biden teve 51,4% e Trump 46,9% dos votos, uma diferença de 4,5 p.p. (pontos percentuais). Esse resultado evidencia a péssima performance da maioria dos institutos de pesquisas que publicaram seus resultados nos principais meios de comunicação, com um consistente erro na intenção de votos para Trump. Na véspera da eleição, o Economist/You Gov indicou Biden com 53% e Trump com 43% (uma diferença de 10 p.p.), o CNBC/Change Research viu Biden com 52% e Trump com 42% (diferença de 10 p.p.), e a universidade Quinnipiac achou Biden com 50% e Trump com 39% (diferença de 11 p.p.).

Poucos institutos tiveram uma boa performance, como IBD/TIPP, que mostrou Biden com 50% e Trump com 46% (diferença de 4 p.p.), e o Rasmussen, que revelou Biden com 48% e Trump com 47% (diferença de 1 p.p., sendo o único que acertou o resultado para Trump).

A péssima performance da maioria dos institutos, repetindo o desastre de 2016, projeta que a próxima eleição presidencial repetirá esse padrão de pesquisas malfeitas com resultados ilusórios, gerando a crescente descrença quanto a sua eficácia e cientificidade. E esse padrão de erros reforça o receio de que os meios de comunicação têm um posicionamento partidarizado, aumentando o sentimento geral de polarização na política norte-americana.

Um segundo dado da eleição deste ano é o de que os EUA ainda se encontram divididos, pois tanto Biden como Trump foram os candidatos à Presidência na história que mais tiveram votos (Biden teve 81.255.933, e Trump, 74.196.153). Em pesquisa publicada em 1° de dezembro, o instituto Rasmussen mostrou que 24% dos respondentes acham que os eleitores de Biden são os maiores inimigos da América, enquanto 22% acham que os eleitores de Trump são os maiores inimigos. Outra pesquisa, publicada em 12 de novembro, revelou que para 64% dos respondentes a América está mais dividida em 2020 do que em 2016.

Um terceiro dado é o desempenho eleitoral de Trump, que ainda não reconheceu sua derrota, pois está constantemente denunciando, nas redes sociais, que houve uma fraude generalizada na eleição, principalmente no tocante aos votos não presenciais, os “mail ballots”. No momento, os esforços de Trump estão concentrados na judicialização dos resultados dos Estados que decidiram a eleição, com a sua promessa de levar os casos até a Suprema Corte (algo difícil de acontecer, mas que lança incertezas quanto à definição da eleição). Mas, caso reconheça a derrota, Trump sairá desta eleição mais forte eleitoralmente que em 2016, pois obteve mais de 74 milhões de votos. Importante destacar que 90% dos que votaram em Trump o fizeram por sua causa, enquanto apenas 56% dos que votaram em Biden o fizeram por causa dele, Biden. E houve 29% dos que votaram em Biden que o fizeram contra Trump. Esse dado da pesquisa Rasmussen de 10 de novembro indica que o grande mobilizador do eleitorado americano foi mesmo Trump, e isso o faz um grande ator político para os próximos anos, gerando mais dificuldades para o esperançoso Biden de conseguir unir o país.

Afinal, quando Trump se elegeu, de imediato, os democratas questionaram a legitimidade de sua vitória (“influência russa nas eleições”, “fake news”…), e as acusações continuaram durante o mandato, culminando com a maioria democrata na Casa dos Representantes abrindo um processo de impeachment contra Trump (julgado no Senado, que rejeitou as denúncias). Esse fato se soma ao do dia seguinte à posse de Trump, em 2017, quando milhares de mulheres fizeram, em várias cidades norte-americanas, protestos contra o recém-empossado presidente, sendo que, em 2020, elas repetiram esse esforço.

Concluindo, desde 2016  os EUA se encontram divididos, com o partido derrotado não reconhecendo a legitimidade da vitória do outro partido e essa situação tende a continuar com o novo presidente que assumirá em 2021.

Publicado por O Tempo.

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