Mudanças no BRICS: desafios e oportunidades em um mundo em transformação 

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Tempo estimado de leitura: 7 minutos

O bloco econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reuniu e aprovou mudanças no BRICS e novos membros. O bloco tem sido um termômetro para as dinâmicas econômicas e políticas em constante evolução no cenário global. Contudo, à medida que o mundo passa por transformações significativas, a questão sobre como esse bloco de nações emergentes se expandirá ganha destaque. Uma das considerações mais cruciais que está moldando essa evolução é a chegada de novos países membros. Este cenário levanta uma série de questões importantes sobre como essas mudanças afetarão o BRICS como um todo, desde sua dinâmica interna até seu impacto nas relações globais. Neste contexto, é fundamental analisar como a chegada de novos países pode redefinir o BRICS. Afinal, como isso influencia seu papel no cenário internacional e suas estratégias conjuntas para enfrentar desafios globais. Sobre isso, Gustavo Macedo, Professor de Relações Internacionais do Ibmec, apontou alguns caminhos e considerações acerca desta nova conjuntura.  

O que é o BRICS e qual sua importância no cenário internacional?  

O BRICS é uma organização de cooperação formada por cinco países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Diferente do Mercosul ou da União Europeia, o BRICS não é considerado um bloco econômico oficialmente devido a seu registro formal. Isto é, seu estatuto não abarca os mecanismos de um bloco econômico, mas sim de uma cooperação mútua entre os países integrantes. Cada uma dessas nações é caracterizada por seu tamanho significativo em termos de território e população. Assim como também se caracterizam por economias em crescimento. O bloco é descrito pela sua composição de países emergentes que em termos de Produto Interno Bruto (PIB), representam uma parte substancial da economia global. A China, em particular, é a segunda maior economia do mundo, o que traz considerável relevância econômica para a coalizão. O BRICS colabora em várias áreas, incluindo políticas externas, segurança, ciência, tecnologia, cultura e educação. Essa cooperação multifacetada permite que o grupo influencie uma série de agendas globais. 

Para Gustavo, enquanto uma organização internacional, o BRICS não chega a incomodar muito a hegemonia das instituições financeiras ocidentais. No entanto, representa uma pedra no sapato dos modelos tradicionais de governança global que historicamente desfavoreceram os países em desenvolvimento.  

“Este é o principal papel do BRICS neste momento: incomodar e servir como um espaço alternativa para avançar a discussão de agendas que de outra forma não seria possível.” Complementa Gustavo.  

Trazendo novos atores: a expansão do BRICS 

A recente decisão de expandir o BRICS é um marco importante nas dinâmicas políticas e econômicas globais. Após meses de discussão, a oficialização da entrada de seis novos membros – Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos – eleva para 11 o número de integrantes. Tal expansão traz implicações econômicas e também carrega um peso significativo em termos de reflexos políticos. Com a adição desses seis novos membros, o bloco ampliado representa um espectro ainda mais diversificado de nações, abrangendo regiões geográficas distintas e interesses variados. 

A entrada de novos países em desenvolvimento aumenta a sensação de que o BRICS está se consolidando como uma alternativa aos blocos Ocidentais. Ou seja, o que as pessoas entendem como o Norte Global. No entanto, pouca coisa muda de imediato visto que não há grandes incrementos em termos econômicos e populacionais. Além disso, a identidade do grupo precisará se adaptar à chegada de países com visões divergentes sobre temas básicos como democracia, direitos humanos e livre mercado. É o que pontua o professor de relações internacionais. Gustavo acredita que a chegada dos novos países traz também desafios internos para o grupo.  

“O bloco precisará provar sua relevância perante seus estados membros. Em termos práticos, isso significa avançar com a agenda de financiamento de projetos de desenvolvimento através do Banco dos BRICS; além de fortalecer os fóruns de discussões de temas sensíveis a todos os membros como meio-ambiente, combate à pobreza, e inclusão tecnológica.” Aponta Gustavo.  

“Amigos, amigos, negócios à parte” 

A inclusão de novos países como o Irã, a Arábia Saudita e outros no BRICS certamente traz desafios internos significativos para o bloco. Isso ocorre porque cada uma dessas nações traz consigo uma série de diferenças políticas, econômicas e geopolíticas. Essas diferenças podem refletir na coordenação interna e nos desafios de posicionamento internacional de maneira uniforme. Muitos dos novos membros do BRICS têm interesses regionais específicos que podem entrar em conflito com os interesses de outros membros. Por exemplo, o Irã tem uma política externa que busca influência no Oriente Médio, enquanto a Arábia Saudita busca proteger seus próprios interesses na região. Essas agendas regionais divergentes podem criar tensões dentro do grupo. 

Em última análise, a capacidade do BRICS de lidar com essas complexidades internas determinará sua eficácia como um ator significativo no cenário internacional. Gustavo acredita que, de fato, as diferenças irão trazer tensionamentos naturais, mas que ainda assim não terão peso como obstáculos organizacionais.  

  “Não acredito que as dinâmicas domésticas dos membros do grupo terão muito peso na coesão do grupo neste momento inicial de expansão. Nas relações internacionais vale a expressão “amigos, amigos, negócios à parte.” Analisa o professor.  

B de Brasil: como o país influencia e é influenciado na coalizão 

O Brasil é uma figura central no BRICS. Como uma das maiores economias emergentes do mundo, o país oferece um mercado atraente para investidores e parceiros comerciais dentro do bloco. Além de ser uma das 10 maiores economias do mundo, é um grande mercado consumidor de produtos e serviços oferecidos por outros membros como Rússia e China. 

 A presença brasileira aumenta a sensação de legitimidade representativa do bloco por estar no continente americano. Da mesma forma, o Brasil apoia o multilateralismo e é visto como uma país pacifista, capaz de aglutinar e inferir em agendas ambientais. Já em relação às mudanças internas que podem acontecer nos governos brasileiros, não há impactos significativos. Algumas pesquisas mostram que nos últimos 20 anos, a alternância de governos de esquerda e de direita no Brasil não impactou decisivamente nosso comportamento no bloco. Contudo, para Gustavo Macedo, é preciso fazer duas ressalvas.  

“Em primeiro lugar, é fato que os governos Lula e Dilma utilizam muito mais a imagem do BRICS para se projetarem para suas audiências domésticas e internacionais. Em segundo lugar, os governos Temer e Bolsonaro foram marcados por um esforço de sobrevivência a uma crise econômica e sanitária; portanto, é compreensível que tenham diminuído suas ambições sobre o bloco nesse período.” 

Enfim, o Brasil tem buscado ativamente o fortalecimento das relações com outros membros do BRICS. Há fortes movimentos promovendo a cooperação em áreas como comércio, ciência, tecnologia e energia. Sua participação ativa nas discussões sobre questões globais, como alterações climáticas e desenvolvimento sustentável, também demonstra o compromisso do Brasil.  

As mudanças no BRICS significam muito em um mundo cada vez mais complexo e interconectado. 

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