Economia sentirá impactos do risco fiscal à frente

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Debate econômico e político dos próximos anos será o equacionamento da dívida pública

Artigo sobre economia escrito por Reginaldo Nogueira, que é diretor-geral do Ibmec SP e DF.

Os dados do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre reforçaram quea pandemia de Covid-19 é um dos maiores desafios da história brasileira. Após uma surpresa positiva no primeiro trimestre, com um crescimento de 1,2%, tivemos um choque de realidade com a queda de 0,1% para os meses de abril, maio e junho.

Esse número veio abaixo do consenso de mercado, que esperava um pequeno crescimento de 0,2%, e nos força a lembrar as dificuldades que ainda precisamos enfrentar pela frente.

É verdade que, comparado com o mesmo trimestre do ano anterior, o resultado foi um crescimento robusto de 12,4%. Todavia, essa não é uma comparação justa, dado que o segundo trimestre do ano passado foi marcado por um quase completo lockdown nas maiores cidades do país.

Por isso, vale ao menos acompanhar o crescimento acumulado em 4 trimestres, que se situa em 1,8%. Nessa métrica o PIB deve continuar crescendo até o final do ano, e se aproximar de algo abaixo de 5%.

Diversos desafios apontam para uma retomada sustentada da economia brasileira. A começar pela própria pandemia. O setor de serviços puxou a economia no segundo trimestre, o que é uma boa notícia.

Mas é apenas com a manutenção do avanço na vacinação, e superação de riscos de retorno às medidas de distanciamento social, que poderemos observar um aumento forte e permanente do setor que mais emprega brasileiros.

A inflação é outro desafio que não pode ser esquecido. Seu aumento, desde o último trimestre de 2020, possui um efeitodireto sobre a renda real das famílias e sua capacidade de consumo. Esses e manteve estagnado no segundo trimestre quando comparado ao primeiro, e mais pressão deve ser observada à medida que os juros continuem sua trajetória de subida para controlar preços.

Os efeitos dessa subida dos juros serão mais bem observados a partir do final desse ano, ficando mais fortes em 2022.

Mas, quanto mais olhamos à frente, maior o impacto dos riscos de natureza fiscal. Esse não é um desafio novo, dado que 2013 foi o último ano em que tivemos um superávit primário das contas públicas.

Entretanto, após os gastos extraordinários para o enfrentamento da pandemia, ele assume contornos bem mais relevantes, e seus impactos afetam cada vez mais a credibilidade de investidores na economia.
O investimento (formação bruta de capital fixo) foi uma das surpresas negativas no PIB, e embora não seja apenas a questão fiscal que o afete no momento, é ela que delineia muito dos riscos no futuro.

As medidas adotadas pelo governo brasileiro em 2020 para o enfrentamento dos efeitos econômicos e sociais da Covid-19 estiveram na direção das melhores práticas observadas ao redor do mundo. Políticas de garantia de renda mínima, socorro emergencial de autônomos, liberação de liquidez às empresas com crédito e postergação de tributos, e esforço de manutenção dos contratos de trabalho, impediram um efeito aindamais severo da pandemia.

Porém tiveram um custo extraordinário, sendo que foi gasto em um ano basicamente tudo o que se esperava economizar em uma década com a reforma da Previdência de 2019.

Não há dúvidas, nesse sentido, que o grande debate econômico e político dos próximos anos será o equacionamento da dívida pública, condição indispensável para a recuperação permanente do investimento privado. Isto estará fundamentalmente ligado a ações relacionadas ao respeito ao teto dos gastos, o que será extremamente complexo em 2022, um ano eleitoral que se apresenta particularmente polarizado e difícil.

Em meio a todos esses desafios, mais do que olharmos para o que aconteceu no segundo trimestre de 2021, devemos nos questionar quais ações tomaremos para garantir tranquilidade e segurança para investidores, empresários e consumidores para 2022. Em especial, porque não podemos nos esquecer que, quando a pandemia se abateu sobre o país, a renda per capita se encontrava ainda cerca de 7% abaixo do nível observado no final de 2013.

Estamos agora basicamente no mesmo nível do final de 2019, no pré-Covid-19, ainda sem termos conseguido recuperar as perdas da recessão do biênio 2015 e 2016.

Reginaldo Nogueira, doutor em economia e diretor-geral do Ibmec São Paulo e Brasília.

Artigo publicado na Folha de S.Paulo: clique aqui para ler no veículo

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