Crise na Argentina: desafios e perspectiva no país vizinho 

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Tempo estimado de leitura: 6 minutos

No cenário político-econômico atual, a liderança de Javier Milei movimenta mais um capítulo da crise na Argentina, e desperta alerta para a América do Sul. Desde sua ascensão ao cargo, a nação enfrenta um turbilhão de reformas propostas marcadas por um viés ultraliberal. E não só por serem nossos vizinhos, mas pelas fortes relações comerciais, o Brasil precisa estar de olho neste cenário. Ambos países são potências regionais e mundiais, e qualquer instabilidade pode gerar grandes e graves repercussões. Para tratar desse tema, o Blog do Ibmec conversou com Reginaldo Nogueira, Ph.D em Economia e Diretor Sênior do Ibmec. Vamos entender um pouco o que está acontecendo bem aqui ao lado e compreender como o Brasil pode ser influenciado por esta conjuntura.

Javier Milei: um outsider na presidência Argentina

Inesperadamente, Javier Milei conquistou a presidência da Argentina com uma vitória expressiva no segundo turno das eleições. O personagem, que foi ganhando espaço na política argentina, chamou atenção pelo perfil anarco capitalista. Embora as projeções da corrida eleitoral tenham sinalizado a possibilidade, os 55,69% dos votos válidos contra 44,30% do seu oponente peronista, Sergio Massa, surpreendeu. Sua ascensão ao cargo foi impulsionada por uma plataforma política de viés ultraliberal, marcada por promessas de reformas profundas e drásticas na economia e na estrutura do Estado argentino. Milei se apresentou como um candidato que representava os argentinos insatisfeitos com a instabilidade econômica e social do país. Há alguns anos, o país enfrenta altos índices de inflação, juros elevados e uma significativa parcela da população vivendo na pobreza.

Durante a campanha, Milei adotou um discurso agressivo e controverso. Sua postura política confrontava tanto seus adversários políticos quanto autoridades internas e externas. Inclusive o próprio governo brasileiro, representado pela presidência de Lula.  Autodeclarado “anarco capitalista”, ele defendeu propostas consideradas radicais, como a liberação da venda de órgãos humanos.

Apesar das críticas e polêmicas que cercam suas propostas, Milei conseguiu mobilizar um eleitorado significativo. Entrou no cargo como uma alternativa ao establishment político tradicional representado pelo peronismo tradicional na história argentina. Sua vitória marca um momento de ruptura na política argentina e nos rumos que o país pode tomar sob sua liderança.

Uma década de grandes desafios

Durante os últimos dez anos, a Argentina enfrentou uma estagnação econômica persistente. Com seu Produto Interno Bruto (PIB) estagnado em níveis equivalentes aos de 2014, a situação representa um cenário desafiador para a nação sul-americana. Essa estagnação econômica foi acompanhada por uma das maiores crises inflacionárias do mundo, com uma média anual de inflação superior a 50% ao longo da última década.

Para Reginaldo Nogueira, a pandemia foi um episódio complicador para um país já com muitas dificuldades. A crise econômica argentina se agravou ainda mais durante a pandemia de COVID-19 em 2020. O PIB do país despencou 9,9%, quase o dobro da queda registrada pelo Brasil no mesmo período.

“Essa conjuntura de estagnação econômica e inflação galopante contribuiu para uma crise fiscal sem precedentes, com déficits fiscais médios anuais superiores a 5% do PIB ao longo da última década.” comenta Reginaldo.

Logo, para avaliar a eleição de Milei é fundamental perceber a influência deste cenário. A esperança de encarar uma conjuntura tomada de desafios econômicos e fiscais se materializa em uma forte oposição ao antigo governo peronista. A busca por alternativas políticas e econômicas tornou-se uma demanda urgente para muitos argentinos. É a ânsia por mudanças para superar a estagnação e restaurar a estabilidade econômica e fiscal do país que se registra nas urnas.

Após assumir, Milei delineou uma ampla proposta de reformas econômicas, indo além de simples ajustes imediatos. Inicialmente, sua atenção voltou-se para a contenção do déficit público, a estabilidade cambial e o controle da inflação. Paralelamente, avança um plano de desregulamentação, privatização e concessão ao setor privado. Mesmo sem contar com maioria no congresso, é evidente que negociações serão necessárias. Seus primeiros passos foram decisivos, mas estão exigindo diálogo na casa legisladora e nas ruas. Enquanto as medidas de curto prazo podem ser mais facilmente implementadas, para os planos de Milei, é a agenda de longo prazo que foca na recuperação econômica.

Brasil e Argentina: parceria fora dos campos 

Apesar da clássica rivalidade desses dois países no futebol, fora dos campos a relação é de cooperação. Nos últimos anos a Argentina tem sido o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás de China e EUA. Reginaldo explica que mesmo com a recessão e a queda das exportações em 2023, o país continua uma fonte importante de receita para várias empresas brasileiras. O maior desafio para essas empresas tem sido a falta de dólares no mercado argentino, e a consequente dificuldade de pagamento das transações internacionais. Nesse sentido, muito do plano de curto prazo do novo governo tem se centrado no restabelecimento de reservas internacionais que sustentem o comércio exterior.

As relações entre Brasil e Argentina são seculares e relevantes, e a integração econômica possui um peso. Para o Brasil a estabilização da economia Argentina é importante”, explica o diretor e economista.

Para ele, por mais que haja desacordos do ponto de vista político, não existe a possibilidade dos países caminharem para uma ruptura.

Por fim, é inegável que a Argentina enfrenta desafios significativos que demandam a implementação de reformas econômicas urgentes. Embora Javier Milei tenha uma agenda ambiciosa e audaciosa, o êxito das propostas irão exigir muita cooperação no país. É preciso buscar soluções para a situação econômica e social do país, que virá somente com um esforço conjunto de toda a nação. É necessária uma recuperação econômica de fôlego para amenizar a crise na Argentina que impulsione o crescimento e o desenvolvimento do país. E que devolva a esperança no futuro ao povo argentino.

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