Conflitos fazem parte da história da humanidade, mas o uso da inteligência artificial na guerra tem sido um diferencial da atualidade. No contexto entre Rússia e Ucrânia, a tecnologia exerce um papel estratégico de forma direta e indireta. No entanto, há muito para se entender como esse recurso é aplicado e quais são as suas particularidades. Gustavo Macedo, professor de Relações Internacionais no Ibmec SP, explicou um pouco sobre isso. Ele é pesquisador de pós-doutorado pelo Instituto de Estudos Avançados da USP na área de Diplomacia Científica e Inovação, onde coordena o projeto de Cooperação Digital para Inteligência Artificial. Ou seja, com toda esta bagagem ele nos responde, afinal quais os diferenciais tecnológicos de uma guerra em 2023?
Rússia x Ucrânia: o que está em jogo?
Desde 2014, a Rússia e a Ucrânia estão envolvidas em uma disputa que teve início com a anexação da península da Crimeia pela Rússia. A partir de então, a Ucrânia passou a ter um movimento separatistas pró-russos em regiões do leste do país. A Rússia é acusada, internacionalmente, de apoiar os separatistas com armas e tropas, o que Moscou nega. Este embate regional foi escalonando e extrapolou os limites internos desses países.
Alguns outros capítulos compuseram esta história até chegar janeiro de 2022. O conflito entre Rússia e Ucrânia se intensificou significativamente. E no início daquele ano, a Rússia mobilizou tropas e equipamentos militares ao longo da fronteira com a Ucrânia. Posteriormente, em fevereiro, a Rússia iniciou uma escalada militar, bombardeando regiões do leste da Ucrânia e invadindo várias cidades fronteiriças.
A guerra entre Rússia e Ucrânia é o principal conflito territorial em curso atualmente. Com confrontos militares ocorrendo principalmente em regiões do leste da Ucrânia em prol de uma questão separatista. A Rússia é acusada de apoiar os separatistas com armas e tropas, mas nega a acusação. Enquanto isso, a Ucrânia se alinhou a importantes atores no xadrez internacional. Ao lado da União Europeia e Estados Unidos, acusam a Rússia de violar a integridade territorial da Ucrânia e de violar as leis internacionais.
A comunidade internacional tem condenado a ação da Rússia e imposto sanções econômicas contra o país. O conflito já deixou mais de 13 mil mortos e forçou mais de 14 milhões de pessoas a deixar suas casas, segundo a ONU.
Há indícios do uso de Inteligência Artificial na guerra?
Em primeiro lugar, é fundamental entender o que é, de fato, uma Inteligência Artificial (IA). A IA é usada em uma ampla gama de aplicações, desde assistentes virtuais em smartphones até sistemas de diagnóstico médico, reconhecimento facial e robótica avançada. Logo, pensar sobre ela na conjuntura de guerra não tem nada a ver com robôs atirando em pelotões. Então, qual tem sido o papel da IA nesta conjuntura entre Rússia e Ucrânia?
Não há informações confiáveis ou evidências claras de que a inteligência artificial esteja sendo usada diretamente na guerra entre Rússia e Ucrânia. No entanto, a IA pode ter um papel indireto no conflito, mas que faz uma enorme diferença. Principalmente quando usada para coletar e analisar grandes quantidades de dados.
“Fazer uso de banco de dados para cruzar dados públicos e encontrar pontos sensíveis em que você possa atacar, manipular ou induzir o seu adversário ao erro sempre foi fundamental. Esse tipo de coleta de informação ajuda a entender como é que está distribuída a infraestrutura urbana, logística e transporte de um país.” Explica Gustavo Macedo.
Logo, mapeando toda a estrutura urbana de maneira computadorizada torna possível a tomada de decisões em tempo real. Bem como, de forma estratégica e objetiva.
Quais os diferentes métodos de IA aplicados no conflito?
É difícil falar de uso de IA ou alta tecnologia em um conflito que ainda está ocorrendo. Principalmente, visto que, muito do que se sabe, chega por entrevista ou vazamento de informação. Ou seja, é publicada com viés oportuno ou então sem a certeza sobre a veracidade do que foi dito. Entretanto, o que se sabe neste momento é que a IA já é utilizada há algum tempo em conflitos armados. Seja na guerra convencional ou na guerra cibernética ou de informação. A exploração de informações de estrutura e comportamento do oponente é comum e muito elementar. Gustavo esclarece:
“Tentativa de atingir fatores sensíveis de sobrevivência do adversário, como distribuição de água, luz, transporte, logística, sistema aéreo sempre ocorreu, é uma guerra silenciosa com impactos imediatos, inclusive, é o que vem sendo feito, principalmente por parte dos russos, no entanto, os ucranianos não estão atrás, mas eles ficam mais se defendendo”.
A Rússia possui um exército moderno e todo conflito é uma possibilidade de testar na prática novos armamentos. O que se percebe é que os russos estão tentando fazer isso. Todavia, os russos ainda estão insistindo em um formato formal de guerra. O tradicional uso de tropas, infantaria, cavalaria, pois estão evitando usar alguns recursos de alta tecnologia porque o uso disso poderia ter uma reação da Ucrânia aliada aos europeus.
“Os ataques precisam ser na mesma proporção. Em uma guerra é preciso ter equilíbrio, pois quando você usa um armamento muito pesado, você dá a liberdade moral para o seu adversário subir o tom e contra-atacar com algo maior.” Complementa o professor.
Por isso, os russos sabem disso. Ainda que possuam maior exército e recursos, eles insistem no avanço convencional. A alta tecnologia tem sido utilizada indiretamente para fornecer dados de planejamento estratégico, isto é, mapeando, monitoramento e vigilância para modelagem do cenário.
Qual o futuro da guerra?
Embora não seja possível afirmar que a tecnologia de IA esteja sendo diretamente utilizada em drones ou armas letais autônomas na guerra na Ucrânia: é possível afirmar que esse conflito acelerou as pesquisas na indústria militar para esse fim. Portanto, ou nós veremos muito em breve o uso de IA neste conflito caso ele se estenda por mais alguns meses; ou nós veremos esse uso no próximo conflito. As consequências seriam imprevisíveis. É por esse motivo que preparamos nossos alunos de Relações Internacionais para que possam atuar em áreas crescentes como a governança internacional de inteligência artificial.
O conflito se intensificou e se prolongou, com confrontos militares em andamento e acusações mútuas de violações dos acordos de cessar-fogo. A comunidade internacional tem buscado soluções diplomáticas para o conflito, mas até agora, nenhum acordo de paz duradouro foi alcançado.
Os países da União Europeia e dos Estados Unidos aplicaram sanções à Rússia com o intuito de sufocar sua atuação. Entretanto, o professor Gustavo Macedo esclarece que o efeito disso foi aquém do esperado.
“Com a restrição de trocas comerciais entre países ocidentais e a Rússia previa-se que o PIB russo sofreria uma queda de 20%, mas não foi o que aconteceu. A Rússia se respaldou a partir do comércio com a China e, na real, teve queda de apenas 2% em sua economia.”
Entretanto, é importante lembrar que tal dependência pode ter suas consequências futuras e a conta sempre costuma chegar.
Continue acompanhando nosso blog para saber mais sobre o cenário internacional e como pode se dar o uso da inteligência artificial na guerra de agora e do futuro.