Taxas têm papel fundamental quando se observa o longo prazo, escrevem professores do Ibmec
Em um passado muito recente, alguns investidores de renda fixa encontravam-se em um dilema: como rentabilizar os investimentos com juros reais, considerando o cenário em que a taxa básica de juros (Selic) atingiu o patamar de 2% ao ano (a.a.)? Lembrando, ainda, que os juros reais consideram os descontos dos efeitos inflacionários.
No período de 6 de agosto de 2020 a 17 de março de 2021, a taxa básica se manteve nesse patamar (2% a.a.) e, curiosamente, segundo dados do relatório Uma análise da evolução dos investidores, da B3, divulgado em agosto de 2021, o aumento no número de novos CPFs foi de 42% entre os primeiros semestres de 2020 e 2021. O que se observa, hoje, em um cenário em que os juros básicos estão próximos dos dois dígitos, é um crescimento infinitamente menor.
Estes dados nos levam a pensar que, numa conjuntura na qual a taxa básica de juros diminui, o apetite ao risco invariavelmente aumenta, ou seja, os investidores passam a buscar melhores alternativas mesmo que tenham que optar por investimentos de maior risco. Este movimento não é nenhuma novidade. Se procurarmos países com taxa básica de juros menores – como os Estados Unidos –, encontraremos um número maior de investidores pessoas físicas em renda variável.
No fim, é importante pensar o que realmente o investidor busca: a maior taxa de retorno possível, não sendo diferente quando se trata de investimentos. No longo prazo, esta diferença é brutal. Em um cálculo simples, sem considerar os efeitos inflacionários que serão comuns a qualquer tipo de investimento, a simples diferença de 0,5% ao mês (a.m.) muda completamente o resultado.
Por exemplo: um capital de R$ 1.000,00 aplicado por um período de 20 anos a uma taxa de 0,3% a.m. gera um resultado de R$ 2.052,22 aproximadamente. Por outro lado, se a taxa for de 0,8% a.m., o resultado será de R$ 6.769,05, ou seja, cerca de 230% maior. Já no curto prazo, em que a mágica dos juros compostos está limitada a um tempo menor (por exemplo, 12 meses), o efeito é bem mais modesto, na casa dos 6%.
Percebe-se, portanto, que a taxa de juros é um fator fundamental ao observar os investimentos numa ótica de longo prazo. A grande questão é o quanto os investidores estão preparados e aptos a escolher as aplicações considerando uma taxa de juros que possa rentabilizar o patrimônio e, ao mesmo tempo, dar relativa segurança.
O momento atual não é muito encorajador: aproximadamente 16% do volume diário de compras e vendas são realizadas por investidores individuais num quadro dominado por investidores estrangeiros (54%) e institucionais (24%), ou seja, é quase uma briga de David contra Golias.
Independentemente do cenário econômico, é evidente a importância da taxa de juros e, em especial, o que deve ser perseguido pelo investidor. Neste sentido, existem alguns caminhos que podem ser percorridos. O que tem ficado muito claro nos últimos tempos é que o investidor tem buscado cada vez mais se qualificar, conhecer produtos e serviços e, principalmente, questionar as opções disponíveis. Já se foi o tempo em que o gerente do banco recomendava a compra do título de capitalização com resgate de 100% corrigido ao fim – e que o cliente concordava de forma leniente.
O papel dos influenciadores digitais tem sido de grande importância ao descomplicar o mundo dos investimentos e traduzir, para algo palatável, as inúmeras siglas, os jargões e as expressões em inglês. É importante ressaltar: o papel do influenciador é muito diferente do papel do educador financeiro – este, sim, qualificado e isento para promover a capacitação do investidor, apresentando alternativas e os riscos inerentes a cada uma delas.
Por fim, o panorama macroeconômico, a influência política e os aspectos fiscais e cambiais, além da ameaça da inflação, sempre existiram e sempre existirão. O que fará a diferença no fim do dia é o quanto conhecemos as alternativas, os produtos e os serviços que trazem a melhor rentabilidade possível dentro do ambiente atual. Com o cenário adverso ou não, o importante é sempre estar preparado para as melhores oportunidades que estão disponíveis quase todos os dias.
* Cleberson Luiz Santos de Paula é coordenador-geral de pós-graduação no Ibmec São Paulo; Cristiano de Souza Corrêa é mestre em Controladoria e Finanças e coordenador do curso de Administração no Ibmec São Paulo.
Este artigo foi publicado no InfoMoney: clique aqui.