Dólar como moeda internacional? Entenda o cenário geopolítico mundial

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Tempo estimado de leitura: 6 minutos

O dólar como moeda internacional é tão dominante que até esquecemos de nos perguntar quando e porque é assim. No entanto, recentemente, o presidente Lula levantou a questão em uma agenda internacional com a China. A pergunta: “Quem é que decidiu que era o dólar a moeda?” ecoou economicamente e politicamente. Muitas pessoas passaram a se perguntar exatamente isso. Pois então, é importante explicar e entender o que significa a fala do presidente para as relações internacionais. Neste artigo você lerá a respeito de como chegamos a este cenário e Reginaldo Nogueira, diretor sênior do Ibmec comenta a respeito.  

Como o dólar assumiu o papel de moeda internacional? 

O dólar americano desempenha um papel dominante no sistema financeiro global. Sua posição proeminente é atribuída a uma série de fatores históricos, econômicos e políticos. No entanto, essa situação não está isenta de problemas e implicações para a economia atual. Mais do que nunca, esta discussão toma proporções internacionais, principalmente com o crescimento geopolítico da China.     

Em grande parte, o dólar como moeda internacional tomou esta dianteira devido à força econômica dos Estados Unidos. O país possui a maior economia do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) substancial. É fato que a China tem crescido e se mostrado uma grande potência que irá mudar os rumos futuros da sociedade mundial. Entretanto, até o momento – e há quase um século, os EUA cumprem este papel. 

Logo, esta influência econômica dos EUA se traduz em uma ampla aceitação do dólar em transações comerciais e financeiras internacionais. Empresas ao redor do mundo preferem negociar em dólares, e muitos países detêm reservas significativas dessa moeda para garantir a estabilidade econômica e facilitar o comércio global. 

Outro fator que contribui para o status do dólar como moeda internacional é a estabilidade econômica dos Estados Unidos. O país possui uma economia relativamente sólida, com baixas taxas de inflação e políticas monetárias transparentes. Isso faz com que o dólar seja considerado uma moeda confiável para transações internacionais. A estabilidade econômica dos Estados Unidos é vista como um porto seguro para investidores, o que reforça ainda mais a posição do dólar no cenário global. 

“O processo natural se iniciou com o crescimento da economia dos EUA a partir da segunda metade do século 19. Com as altas taxas de crescimento econômico e financeiro, não demorou para o dólar se tornar uma alternativa à libra esterlina como moeda de reserva internacional, o que se consolidou com a 1.ª Guerra Mundial.” comenta Reginaldo Nogueira.  

Um pouco da retrospectiva histórica 

Um momento crucial para a ascensão do dólar como moeda internacional foi a implementação dos Acordos de Bretton Woods após a Segunda Guerra Mundial. Nesses acordos, o dólar americano foi designado como a principal moeda de reserva internacional, vinculada ao ouro. Isso levou muitos países a manter reservas consideráveis em dólares, a fim de estabilizar suas próprias moedas e facilitar o comércio global. Embora o sistema de Bretton Woods tenha sido abandonado em 1971, o dólar manteve sua posição dominante como moeda de reserva, devido ao poder econômico e à estabilidade dos Estados Unidos. 

É claro que o dólar como moeda internacional traz inúmeros benefícios para os Estados Unidos, porém levanta questionamentos para a economia global. Sobretudo agora, quando há uma disputa acirrada e quase “fria” entre China e EUA. Atualmente, a disputa comercial entre China e Estados Unidos tem sido um dos principais pontos de tensão na economia global. Essa disputa é caracterizada por uma série de medidas comerciais restritivas e tarifárias adotadas por ambos os países, resultando em um aumento significativo das tensões comerciais e afetando negativamente as relações bilaterais. Nesse sentido, a disputa pela moeda internacional nas transações é mais um ponto de pressão.  

O que significa para a economia mundial reduzir o poder do dólar nas transações internacionais? 

O que muito se pergunta é o que aconteceria se o dólar deixasse de ser a moeda utilizada, ou, ao menos, perdesse parte do seu mercado. Reduzir o poder do dólar nas transações internacionais teria implicações significativas para a economia mundial. Isso afetaria diversos aspectos, desde o comércio global até a estabilidade financeira e a dinâmica das relações econômicas entre os países. 

O impacto no comércio internacional, por exemplo, poderia beneficiar países com moedas mais fracas ou emergentes, permitindo-lhes uma maior  competitividade nas exportações. Além disso, uma maior diversificação das moedas poderia reduzir a dependência excessiva de muitos países em relação ao dólar e aumentar a flexibilidade nas transações comerciais. O que, por sua vez, também implica na paridade entre EUA e China. O dólar tem sido um instrumento importante para os Estados Unidos exercerem influência política e econômica em escala global. A redução do poder do dólar poderia levar a uma mudança na dinâmica geopolítica, com o surgimento de novos atores, como a China, e uma redistribuição de poder no sistema financeiro internacional. Isso poderia impactar as relações entre países e a ordem econômica mundial existente. 

Para Reginaldo, a solidez do dólar é um solo importante para a conjuntura econômica mundial.  

“Enquanto alterações estruturais não se tornem realidade, o dólar seguirá sendo a moeda mais eficiente globalmente, mesmo abrindo espaço para moedas concorrentes no portfólio de reservas internacionais de bancos centrais ao redor do planeta.” complementa.  

E o Brasil: quais os impactos não ter o dólar como moeda internacional?  

Se o dólar deixasse de ser a moeda internacional dominante, o impacto no Brasil dependeria de vários fatores. Tais como competitividade das exportações e diversificação das reservas internacionais. Assim como enfrentaria desafios como fluxo de investimentos, custos de transição e fluxo volátil de capital.  

Enfim, é importante ressaltar que a transição para uma nova moeda internacional dominante traria consigo muitos desafios e incertezas. Para o Brasil e para o mundo. A dinâmica resultante desse processo exigiria uma gestão cuidadosa das políticas econômicas e financeiras. Uma união e acordo desafiador com diversos países e instituições internacionais. 

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