Novos horizontes do trumpismo pós-processos de impeachment
Por Christopher Mendonça, professor de Relações Internacionais do Ibmec-BH.
O balanço do primeiro mês do governo Biden apresenta um grande esforço por parte da Casa Branca em pacificar o país, que saiu do período eleitoral altamente tensionado. As imagens da invasão do Capitólio por grupos insurgentes dificilmente sairão do pensamento dos americanos. O novo presidente inicia a sua jornada com um peso grande deixado pelo seu antecessor.
Mesmo banido de suas redes sociais, o agora ex-presidente Donald Trump não deixou de ser foco dos principais debates políticos nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que o Congresso trabalha no sentido de encontrar soluções para a crise vivenciada em meio à pandemia, a pauta legislativa se desenvolve também para responder aos movimentos de contestação dos resultados eleitorais.
As acusações de incitação à violência baseadas nos últimos discursos de Trump como mandatário ganharam adeptos entre os deputados e seguiram para discussão no Senado, mesmo com a alternância entre os presidentes. O futuro político do ex-presidente republicano levou à Câmara Alta a reverberação do ambiente polarizado que a sociedade americana tem vivido nos últimos meses.
Os acusadores do ex-presidente não pouparam fôlego: apresentaram novos vídeos, evidenciaram ameaças aos parlamentares, inclusive ao então vice-presidente Mike Pence, e difundiram de forma reiterada as conversas telefônicas em que Trump pressiona um alto funcionário no Estado da Geórgia para “achar” mais votos favoráveis à sua reeleição.
Toda a argumentação não foi suficiente para que o impeachment fosse aprovado pelo Congresso. O rito processual que poderia tornar o ex-presidente inelegível exigia uma maioria qualificada de 67 senadores, mas apenas 57 endossaram o pedido. Embora rejeitado pelo Senado, o impeachment de Trump contou com o voto favorável de sete senadores do mesmo partido do ex-presidente.
O primeiro presidente americano a ser parte de dois processos de impedimento demonstrou que não está tão fora do jogo político, como defendem alguns analistas. A despeito do aumento do número de traições entre um processo e outro, Trump ainda ostenta apoio entre os republicanos que o salvaram da degola política.
Os próximos quatro anos certamente serão marcados por duas frentes importantes no campo político. De um lado, o presidente Biden deverá fortalecer o seu nome, atraindo o olhar de seus críticos e ampliando a sua legitimidade no cargo. Do outro lado, Trump deverá fomentar a difusão dos ganhos de seu governo, sobretudo na economia, e construir um possível retorno à Casa Branca, o que definitivamente não está descartado pelo ex-presidente tampouco pela direção de seu partido.
Os dados econômicos do período de governo Trump demonstram que a pandemia apresenta-se como um fator importante sobre o desempenho presidencial e eleitoral. Nos três primeiros anos de seu mandato, o presidente conseguiu atender as expectativas de reativação econômica do país, e, embora haja uma tentativa de apagar tais conquistas, os registros históricos são implacáveis em impedir que o ex-presidente seja lembrado apenas pelos últimos meses no poder.
De acordo com o Escritório de Análises Econômicas dos EUA, em seu primeiro triênio, Trump levou o país a um crescimento médio de 2,5% ao ano, uma taxa bastante próxima da média do governo Obama. O desemprego no país alcançou os menores índices em 50 anos, e os salários médios dos americanos alcançaram US$ 30/hora, um recorde para as últimas décadas. Por fim, a era Trump foi responsável pelos menores índices de pobreza no país desde a década de 1960 (10,5%).
O que significa todo esse argumento? Que o arquivamento do impeachment de Trump somado às conquistas econômicas de seu governo no pré-pandemia fazem com que haja um suspiro entre os republicanos. Definitivamente, o trumpismo não está morto e deve retornar como uma força considerável no próximo pleito eleitoral.
Publicado por O Tempo.