Por Adriano Cerqueira, professor do Ibmec BH e membro do Observatório das Eleições dos EUA 2020.
Há uma grande dúvida pairando no ar no mundo: quem será eleito presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump ou Joe Biden? Para além do clima de torcida, alguns indicadores na política e na economia e tratados em uma escala histórica que envolve vários mandatos presidenciais podem sinalizar favoritismo para um candidato.
Quais seriam esses indicadores e de quem eles sugerem favoritismo?
1º) O mais popular é a pesquisa eleitoral nacional. Nos EUA há um grande e bilionário mercado de pesquisas eleitorais nacionais, e, infelizmente, o quadro geral de seus resultados é indicativo de grandes diferenças nos resultados apurados em pesquisas feitas no mesmo período. Essas diferenças revelam problemas sérios de metodologia, em especial na amostragem dos eleitores e no modo de aplicação dos questionários. Outro problema sério é que as pesquisas nacionais mostram o candidato mais popular, mas isso não garante a vitória no colégio eleitoral.
A média apurada dos resultados das pesquisas nacionais e feitas por sites como Real Clear Polítics (RCP) e Five Thirty Eight (538) indicam, no fim de outubro, uma diferença a favor de Biden de 8,1 pontos percentuais a 9 pontos percentuais, respectivamente. Assim, elas indicam favoritismo para Biden, pois nenhum presidente conseguiu se eleger com uma diferença negativa de 8 a 9 pontos percentuais de seu adversário.
2º) Índices de avaliação do trabalho do presidente. Há duas situações geradas nesse indicador: uma por pesquisas eventuais feitas por diversos institutos e que são coletadas pelos sites para gerar uma média da aprovação e da desaprovação e a outra são os trackings, pesquisas diárias e que, neste ano, apenas o instituto Rasmussen tem publicado. Na média dos sites RCP e 538 o índice de aprovação de Trump, no final de outubro, estava em 44%. Já o tracking do instituto Rasmussen indicou, na semana de 19 a 23 de outubro, um índice médio de aprovação de 50%.
Quando um presidente está tentando a reeleição, esse indicador é crucial para medir suas possibilidades de êxito, como mostra a série histórica desde Jimmy Carter. Em setembro de 1980, Carter tinha 37% de aprovação e perdeu a eleição para o desafiante Ronald Reagan. Outro presidente que perdeu a reeleição foi o sucessor de Reagan, George H. W. Bush. Ele estava, em outubro de 1992, com 34% de aprovação e perdeu a eleição para o desafiante Bill Clinton. Esta foi a última eleição em que um presidente que tentava a reeleição perdeu. Logo, por esse indicador, Trump é favorito para ganhar a eleição.
3º) Índice do consumidor, medido pela Universidade de Michigan e que informa o grau de otimismo ou pessimismo com o futuro da economia por parte do consumidor. Estudos têm indicado uma correlação positiva entre um alto sentimento de satisfação medido por esse índice com a reeleição do incumbente. Quanto mais próximo de 100 estiver o índice, maior será o grau de confiança do consumidor, e, quanto mais abaixo de 100, maior será o grau de desconfiança. Assim, um eleitorado mais confiante com o futuro da economia tende a aprovar as ações do presidente em exercício de mandato, enquanto um eleitorado mais desconfiado tende a desaprovar.
Na escala histórica, apenas um presidente com um índice maior que 80 perdeu a reeleição, e foi Gerald Ford (quem sucedeu Nixon, após sua renúncia). Em agosto de 1976 o índice do consumidor estava em 89,7, mas, mesmo assim, ele perdeu para o desafiante Carter. Em outubro de 1980, o índice estava em 75, e Carter perdeu para Reagan. E em outubro de 1992, o índice era 73,3, e George H.W. Bush perdeu para Clinton. Em 16 de outubro de 2020, o índice do consumidor de Michigan marcou 81,2. Por esse indicador, Trump é favorito para ganhar a eleição (como comparativo recente, em outubro de 2012 o índice estava em 82,6, e Obama ganhou a reeleição).
A conclusão, levando-se em consideração todos os indicadores aqui listados, é que Trump tem um ligeiro favoritismo sobre Biden.
Crédito: O TEMPO