Os desafios do próximo presidente dos EUA no pós-pandemia
Por Marize Schons, professora de Relações Internacionais do Ibmec-BH
A agenda econômica é considerada uma das questões centrais durante uma eleição presidencial e também durante um mandato presidencial. E a economia foi um dos campos em que o presidente republicano Donald Trump teve melhor desempenho.
Antes do início da crise promovida pelo coronavírus no começo de 2020, os EUA apontavam bons índices de crescimento econômico, o que se manteve nos modestos 2,5%, porém mostravam uma economia sólida. O desemprego em janeiro chegou a bater índices baixíssimos de 3,6%. A taxa de pobreza dos negros, mensurada pela primeira vez em 1959, ficou abaixo dos 20%, e a renda da classe média em relação a 2016 aumentou.
Apesar de muitas perdas por causa do fechamento do comércio devido à Covid-19 – queda de 32% do PIB no segundo trimestre de 2020 –, Trump ainda conseguiu recuperar o desempenho de alguns índices econômicos antes das eleições.
Isso foi possível graças a três pontos fundamentais da política econômica trumpista: redução de regulamentações e burocracia; redução tributária sobre o lucro das empresas, que, por conseguinte, atraiu novamente indústrias que haviam deixado o país; e, por fim, paradoxalmente promoveu uma política de crescimento consistente da dívida pública americana que chegou a bater recordes históricos.
Mas, quanto a Biden, como será sua postura em relação à economia? Algumas peças ainda estão indefinidas no jogo político americano. Mas já sabemos que o democrata escolheu como líder da equipe econômica Janet Yellen (74 anos) – que comandará o Departamento do Tesouro –, e que ambos terão que enfrentar mais um período de fechamento dos comércios.
Biden afirma que sua prioridade será tanto estabelecer um plano de vacinação para o combate da Covid-19 quanto recuperar a economia. Seu discurso econômico ganha tom social, pois promete criar empregos e aumentar o salário mínimo e, ao mesmo tempo, incentivar a criação de energia limpa e diminuir a desigualdade racial.
Para isso, suas propostas eleitorais apontavam para uma reforma tributária a fim de garantir a tributação dos mais ricos. A agenda ambiental será conduzida a partir de mudanças na burocracia e aumento na regulamentação. As metas prometidas por Biden quanto à questão ambiental são ousadas. E um dos setores que podem sofrer intensas mudanças é o de extração de óleo de xisto, chamado de “fracking”.
Os investimentos em energia limpa demandam mais um ciclo de gastos públicos e aplicação de recursos em infraestrutura. Yellen está alinhada com o presidente. Para a economista, conhecida pela sua abordagem keynesiana, a recuperação dos EUA pós-pandemia necessitará de um processo de aumento de gastos públicos a fim de reduzir as desigualdades.
Portanto, podemos prever que assistiremos ao aumento da dívida pública no mandato de Biden, assim como assistimos no mandato de Trump. Entretanto, o aumento de gasto vai ser justificado por políticas econômicas muito divergentes e teremos que, a partir de 2021, esperar os resultados.
Artigo publicado no O Tempo.