* José Luiz Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec RJ
O Talibã voltou ao poder no Afeganistão. Os motivos são vários… inclusive, uma postura titubeante do ex-presidente Obama na Síria. O Pentágono tinha um plano preparado para impedir o inferno na Terra, que perdura até hoje naquele lugar.
A conjuntura política do Afeganistão é apenas uma peça de dominó em movimento de queda… faz parte da fileira de “dominós” desta região. Só não sei qual foi a primeira peça colocada na sequência desta fileira, para uma derrubar a outra…e nunca saberemos qual será a última peça a cair.
Desde a Guerra com a Espanha, em 1898, passando pela vista ‘de camarote’ da Primeira e, com a oportunidade ‘colocada no colo’ com a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos sabem e devem saber que agendas de objetivo hegemônico precisam de foco cirúrgico na região da Ásia menor e do Oriente Médio; e, nestas, o que vale e resolve é uma postura Neorrealista estratégica.
Essas regiões do continente Euroasiático, juntas, formam uma subárea continental de ruptura quase perene. Principalmente quando a Rússia decide quais peças a derrubar nesta corrente sem fim, da qual que ela ainda participa; com as constantes testagens de seu quantum de poder, mirando, nas últimas décadas, duas frentes de ação contra hegemônica: a retomada de espaços antes soviéticos – vide o caso da Criméia – e, mais abaixo, tentando preencher um vácuo quase inteiro de poder num médio oriente.
E a China? Sua passividade estratégica e atitude diplomática multilateral podem funcionar em outros quadrantes mais abertos do sistema internacional. Mas por ali, sua resposta definitiva é de contraposição a qualquer ingerência norte-americana ou da OTAN.
E mais sobre o mesmo: a Ásia menor e o Oriente médio são regiões marcadas pela miséria estrutural, radicalismo religioso, inexistência de valores democráticos modernos, com processos de “stop and go”, que alternam regimes autocráticos e regimes autoritários.
E esta conjuntura de pré-catástrofe sistêmica, exige, não só por parte dos EUA, mas de todos os países pivô e das agências das Nações Unidas, uma postura Neorrealista estratégica. Mesmo que neste contexto entre os Estados e as Organizações Internacionais prevaleça a competição, a desconfiança ou a ética da convicção. Mantendo, assim, sempre balançando o pêndulo de uma postura estratégica passiva para uma de perfil ativa, dependendo do contexto de hipótese de conflito, conflito, hipótese de guerra e guerra formal convencional ou, no limite, de estruturação nuclear. Assim, o jogo de poder ficará num ‘zero a zero’ ótimo.
E sobre os atores que devem ser contrapostos…, impedidos…, neutralizados???
Os de sempre: estruturas viciadas e as dinastias de agentes de Estado corruptos; facções inimigas nos organogramas governamentais; grupos autônomos nacionais ou transnacionais, admiradores ‘de’ ou terroristas, mesmo; todos com interesses transversais, em tabuleiros sobrepostos e jogos de soma sempre zero, maléficos e radicais, com ações sempre baseadas em uma violência de perfil para e/ou militar indiscriminada e, por isso mesmo, ante civilizatórias.
Retirado de: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/cabul-caiu/