Inflação: aumento do preço das commodities traz desafios e oportunidades para o Brasil

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Pressionando inflação e juros para cima, risco geopolítico pode levar economia brasileira à estagnação

Inflação. crédito da imagem: InfoMoney

Na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, preços de energia, combustível, alimentos e outras commodities subiram de forma extraordinária, mesmo já partindo de patamares historicamente elevados. O aumento do risco geopolítico sugere que estes valores mais altos se mantenham ao longo do ano, o que apresenta para o Brasil uma série de desafios – além de algumas oportunidades.

A inflação se tornou um tema de debate e preocupação – não apenas no País, mas em todo o mundo – nos últimos meses, com a economia global enfrentando ainda o choque de oferta infligido pela pandemia, que interrompeu diversas cadeias de suprimentos. Isso pode ser visto pelo aumento de diversos produtos industrializados, por exemplo, com dificuldades de oferta decorrentes da falta de insumos e componentes. Este fenômeno se torna, agora, ainda mais relevante, com o aumento do preço das commodities. No ano passado, a inflação brasileira já esteve em um patamar próximo de 10% e, com os recentes reajustes do preço dos combustíveis, pode chegar a 7% neste ano. 

Como destacado pelo próprio Comitê de Política Monetária (Copom), em nota no dia 16 de março, este cenário pode ser ainda mais complicado pelos riscos de uma política fiscal mais expansionista, devido às pressões de um ano eleitoral. Estas questões já aparecem na pressão por juros mais altos, como forma de conter a tendência persistente da subida dos preços. Os juros básicos se encontram atualmente em 11,75% ao ano (a.a.), mas devem continuar subindo até 13%, ou mais, até o fim de 2022. 

Combinado às incertezas do cenário eleitoral doméstico e o ambiente externo, o aumento da taxa de juros pressiona ainda mais a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) esperada para este ano e o próximo. Estimativas atuais de mercado apontam para algo em torno de 0,5%, em 2022, e de 1,5%, em 2023, de maneira que um balanço de riscos negativo poderia trazer a economia para uma conjuntura de estagnação.

Por outro lado, a economia brasileira é também uma grande exportadora de commodities agrícolas e minerais, como carne, frango, soja e minério de ferro. Além disso, o País é exportador líquido de petróleo desde 2017. Preços internacionais mais altos devem favorecer os exportadores brasileiros e a conta corrente nacional. Isso também deve ajudar a estabilizar a taxa de câmbio, o que pode facilitar, em alguma medida, o trabalho do Banco Central (Bacen) no controle da inflação. 

Todavia, para este quadro de oportunidades no comércio exterior, também há desafios a serem considerados. A produção agrícola brasileira, em particular, deve enfrentar forte competição com produtores norte-americanos, que buscam aumentar sua participação no mercado global. Além disso, as sanções impostas sobre Rússia e Bielorrússia têm levado a interrupções na oferta mundial de fertilizantes – 85% da quantidade usada no Brasil são de origem importada.

Em suma, a invasão da Ucrânia pela Rússia aumentou a incerteza para as economias brasileira e mundial não apenas para 2022, mas com impactos também em 2023. E, em especial para o caso nacional, além dos efeitos diretos sobre o preço das commodities, o próprio ambiente político doméstico eleva os riscos, sugerindo cautela de analistas e investidores.

As opiniões expressas neste artigo não representam as do Banco de Desenvolvimento Asiático, Ibmec ou quaisquer instituições associadas.

*Reginaldo Nogueira é diretor-geral do Ibmec São Paulo e Brasília; Matteo Lanzafame é economista sênior do Banco de Desenvolvimento Asiático.

Artigo publicado no InfoMoney: clique aqui.

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