A disputa pelas vagas do Senado no estado pode definir os rumos do Partido Republicano
Por Mario Schettino, professor do Ibmec BH; Fabiana Diniz Bastos e João Gabriel Baldo, alunos de Relações Internacionais do Ibmec BH
Após a confirmação da vitória de Biden nas eleições, uma das principais perguntas era acerca do futuro de Trump como líder político nos Estados Unidos. O republicano teve números eloquentes nas eleições, com uma votação recorde de 74 milhões de votos e um desempenho acima do esperado entre latinos, o que expressa uma substantiva adesão ao seu legado econômico pré-pandemia e a uma agenda política com características conservadoras e nativistas – que se pode chamar, genericamente, de trumpismo.
Os números das eleições sugerem que a influência de Trump nas urnas não é negligenciável. O fato de ele ter construído, ao longo de seu governo, as imagens políticas de seus filhos e de seu genro reforça ainda mais o trumpismo como plataforma política-eleitoral.
Nas próximas semanas, o maior desafio para o futuro do trumpismo é a corrida eleitoral para as cadeiras da Geórgia no Senado. As duas vagas do estado ainda estão em aberto, porque nenhum candidato, para ambas as vagas, obteve 50% dos votos nas eleições que acabaram de ocorrer. Assim, ambas serão decididas em um 2º turno em janeiro de 2021.
Atualmente, os republicanos controlam 50 cadeiras do Senado e os democratas 48. Uma dupla vitória democrata – por ora o cenário menos provável, mas não impossível – não representaria um empate, mas o controle do Senado, uma vez que, nesta casa legislativa, nos Estados Unidos, o vice-presidente da República detém o voto de desempate.
Destaca-se que Geórgia apresenta, desde 1972, resultados favoráveis aos republicanos nas eleições presidenciais. As vitórias democratas são uma exceção e ocorreram somente com Carter, natural do estado, em 1976 e 1980; Clinton em 1992; e Biden em 2020 – 49,5% contra 49,3% de Trump. Especialistas apontam para alguns fatores que podem explicar essa alteração na posição histórica do estado.
Primeiramente, uma mudança demográfica nos dez condados que compõem a Atlanta Regional Commission, onde vivem aproximadamente 45% da população da Geórgia. Nessa área metropolitana, verifica-se um aumento de parcelas da população que têm preferências políticas próximas à agenda democrata, sobretudo de latinos, negros e asiáticos. Soma-se, ainda, um aumento do engajamento cívico e político desencadeado pela candidatura de Stacey Abrams pelos democratas para o governo do estado em 2018.
Além disso, os candidatos democratas têm melhorado o seu desempenho em regiões predominantemente republicanas, incluindo nas franjas dos subúrbios (exurb), que são formadas por uma classe média majoritariamente branca que se deslocou para essas áreas em busca de maior qualidade de vida e de menores custos.
Outro fator que potencialmente explica o sucesso democrata na Geórgia é um sentimento anti-Trump, uma vez que o bom desempenho eleitoral dos democratas se acelera a partir de 2016.
Esse é o primeiro grande desafio que Trump enfrenta para se consolidar como liderança política após as eleições de 2020. Ele precisa mostrar a viabilidade de seu nome como candidato ou cabo eleitoral para candidaturas republicanas e afastar a sensação de que a sua rejeição impõe um teto de votação muito baixo, o que dificultaria as vitórias eleitorais de seu partido.
Portanto, uma dupla vitória democrata na Geórgia representaria não somente uma trifecta do partido de Biden nas eleições, controlando Presidência, Câmara de Deputados e Senado, mas uma primeira derrota do trumpismo após 2020, que teria o condão de acelerar a disputa pela liderança e pelo futuro do Partido Republicano.
Publicado por O Tempo.