Música, concentração e estudos
João estava muito preocupado com uma prova que teria no dia seguinte. No meio de seus estudos, ele resolveu ligar o rádio que estava tocando um rock instrumental que, por sua vez, provocou uma sensação de relaxamento e em seguida o deixou animado, revitalizando suas energias para encarar os estudos com outra disposição. Nesse mesmo instante, em outro lugar da cidade, a mesma preocupação assolava Ana que, coincidentemente, também ligou o rádio na mesma estação para desestressar da mesma prova. Porém, a mesma música de rock que ajudara João, deixou-a ansiosa e mais agitada.
Considerando que a música é capaz de mobilizar desde a nossa fisiologia (batimentos cardíacos, pulsação, neurotransmissores etc.) até o nosso estado de espírito (humores, emoções, pensamentos e sentimentos), a ideia é que utilizemos esse potencial ao nosso favor de maneira consciente. No nosso exemplo, João sem querer, num movimento despretensioso, pôde por meio da música revigorar sua energia – os batimentos cardíacos diminuíram acalmando a ansiedade, seu cérebro liberou dopamina que, por sua vez, despertou uma sensação de prazer e motivação e alterou seu humor para uma atitude mais positiva – para um segundo round nos estudos. Ana, infelizmente, não teve o mesmo resultado e continuou estudando sem música.
Nesse sentido, ocorre a pergunta “como me concentrar nos estudos ou em outra atividade que requer atenção?”. A seguir, vamos abordar esse tema.
Canção e concentração
Bem, temos uma tendência racional a interpretar e a querer entender as palavras. A parte cantada de uma música pode vir a acentuar isso, retirando o foco da atividade que se queira realizar ao invés de acentuá-lo. É como se parte de seus recursos disponíveis fossem direcionados para entender e acompanhar a letra da música. Ou seja, seria contraproducente nesse contexto.
Visto isso, de um modo geral, as músicas que possuem letras cantadas (canções) – como as populares que ouvimos em rádios – não seriam indicadas para compor um pano de fundo musical durante um estudo ou alguma outra atividade que requeira atenção concentrada. Porém, isso pode variar de pessoa para pessoa: a alma humana é um mistério e nesse quesito não existe uma resposta simples. Em psicologia cada caso é um caso e o que podemos fazer então são experiências com nós mesmos! Pode ser que você consiga estudar numa boa com canções conhecidas ou desconhecidas.
Música instrumental ajuda na concentração?
A música instrumental – aquela sem letras cantadas seja do estilo que for: rock, MPB, eletrônica, clássica, e por aí vai – possui a característica de não ter palavras que são cantadas, o que já não daria motivos para gastarmos foco e energia tentando entender e acompanhar a letra da música.
Nesse sentido, você pode usar a sua imaginação para escolher a que mais lhe agrada, segundo seu estilo de preferências: as plataformas de streaming hoje (Youtube, Spotify, Deezer, Soundcloud etc.) possuem uma grande diversidade de estilos musicais. Escolher desde uma bossa nova, um folk apenas com um violão, um jazz até um eletrônico com batidas mais aceleradas e marcantes para tornar mais agradável seu ambiente. Sendo assim, até descobrir novos estilos que nem sabia que existiam.
Paisagem Sonora agradável
É importante que a música escolhida seja agradável. Por quê? Imagina você estar se preparando para uma atividade difícil ao som ininterrupto de uma furadeira no andar de cima. Provavelmente, além de não conseguir se concentrar, passe a associar a atividade de estudar a uma experiência ruim. O ambiente precisa ser o mais agradável possível. Em seu aspecto sonoro, os sons e a música compõem o que o pesquisador e compositor canadense Murray Schafer chamou de Paisagem Sonora.
Portanto, é importante que a Paisagem Sonora seja agradável e a música pode fazer diferença nesse momento de execução de uma atividade. Com uma música mais rápida, os olhos tendem a se dilatar e as batidas do coração acelerar. Com música mais lenta, as pálpebras tendem a ficar pesadas e as batidas do coração desacelerar. Porém, como em psicologia não existem regras tão fixas e rígidas, falamos apenas em tendências. A mesma música que acalma os ânimos de uma pessoa pode perturbar uma outra pessoa e pode induzir o sono em uma terceira. Lembram do início desse texto?
Conclusão: mas como eu vou saber que a música que eu escolher vai funcionar?
De antemão não há mesmo como saber se a música escolhida irá melhorar ou piorar seu ambiente externo e interno – a não ser que você já tenha um suficiente autoconhecimento musical. Ou seja, é necessário e importante que você faça experiências.
Aproveite para se (re)descobrir no seu mundo psicomusical.
Resumindo, podemos destacar as seguintes indicações de melhorias no ambiente de estudo que, em seu aspecto musical, é composto por uma Paisagem Sonora (essas indicações não devem ser tomadas como verdades absolutas, mas sim testadas e verificadas por cada pessoa):
- Tente melhorar sua paisagem sonora com uma música instrumental (sem palavras cantadas) e sinta o efeito;
- Escolha um estilo de música agradável para você (o que estimula uma pessoa pode perturbar outra);
- Faça experiências e veja o que funciona melhor para você!
Este texto é um breve aquecimento uma palestra que farei no Ibmec SP, dia 18/06, para os alunos da graduação. O tema será “Música, Psicologia e Autoconhecimento”. Convido você a conhecer para conversamos um pouco mais sobre esse assunto. Espero que esse texto contribua de alguma forma para a sua vida. Um abraço e até lá!
*Psicólogo (CRP 06/130191), psicoterapeuta junguiano, pesquisador, músico, criador e facilitador de workshops sobre psicomusicalidade.