Consumidor mais exigente, pressões de custos e insegurança para investimentos moldarão economia em 2022
Além da dificuldade de quebrar a trajetória de aumento da inflação, cenário político-eleitoral brasileiro também terá peso, escrevem professores do Ibmec
Por Reginaldo Nogueira e Márcio Salvato*
Os últimos meses de 2021 mostraram um forte descompasso entre oferta e demanda na saída da crise da pandemia de covid-19 ao redor do mundo. Esta desordem explica grande parte dos desequilíbrios macroeconômicos observados hoje – em especial a inflação global, com importantes reflexos para 2022.
A desaceleração ocasionada pela paralisação da atividade econômica, principalmente na segunda onda da crise sanitária, quebrou a capacidade de resposta de várias cadeias de suprimentos. Assim, é notável que a oferta global não estava preparada para acompanhar o reaquecimento da demanda.
Estamos diante de um clássico choque de oferta que impacta os custos de produção e a capacidade produtiva das empresas, reduzindo a eficiência. Exemplo simples é a dificuldade mundial de restabelecimento da capacidade de produção de chips pela indústria, prejudicando toda a cadeia de suprimentos em diversos segmentos.
Isso tem afetado até mesmo a capacidade de entrega de carros novos, com reflexo sobre preços (inclusive, dos usados). Soma-se a isso o aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais e fica fácil entender por que a inflação passou a ser o tema mais debatido nos círculos econômicos ao redor do mundo.
No Brasil, não é diferente. Ainda mais porque todo este cenário coincidiu, no País, com um choque de custos de energia, causado pela crise hídrica e pela depreciação do real. Esta coincidência de conflito de gastos explica a forte elevação da inflação brasileira ao longo do ano passado. Por isso, enfrentamos, hoje, trajetória de aumento da taxa básica de juros, a qual deve se manter em 2022 – implicando redução nas expectativas de crescimento.
Além da dificuldade de quebrar o curso de aumento da inflação e dos desafios globais que tendem a gerar instabilidade cambial, não podemos ignorar o cenário político-eleitoral nacional. As eleições gerais de 2022 já se apresentam como muito competitivas e tensas, e isso deve afetar o investimento e gerar cautela no setor privado.
Toda esta conjuntura já derruba as expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano, apontando para algo abaixo de 1%. Uma taxa muito próxima da medida de crescimento populacional, o que sinaliza situação de estagnação da renda per capita brasileira em 2022.
Do ponto de vista empresarial, teremos, portanto, um ano bem desafiador. Haverá pressões de custos, insegurança de investimento e economia internacional em desaceleração. Além disso, vale destacar que os negócios retornarão a um modelo mais “normal” de atuação, porém, encontrando um perfil de consumidor muito alterado durante o longo ciclo de pandemia. Os clientes se familiarizaram com o consumo a distância, por exemplo.
Também se tornaram mais exigentes, pois aprenderam a comparar, com certa facilidade, preços de produtos e estão mais interessados na experiência de consumo. Isso tudo é um verdadeiro desafio para o mercado, que terá de investir, em um momento de certa turbulência, em Tecnologia de Informação (TI), logística de entrega e marketing digital. Por certo, sairão na frente aqueles que agirem mais rapidamente para entender como encontrar uma solução para estes desafios.
*Reginaldo Nogueira é diretor-geral do Ibmec São Paulo e Brasília; Márcio Salvato é coordenador-geral de Graduação do Ibmec Belo Horizonte (MG).
Artigo publicado na Infomoney: clique aqui.