Grande parte das conquistas do movimento feminista está relacionado com os direitos das mulheres no que tange à maternidade e carreira. No entanto, a conciliação entre essas duas esferas da vida é um tema muito complexo e infelizmente, direito registrado não significa direito praticado. Com maiores e melhores oportunidades no mercado de trabalho, muitas mulheres passaram a encarar jornadas triplas de trabalho. Ou então, vivem o dilema entre esperar por uma melhor posição no mercado de trabalho e decidir ter filhos. Essa ponderação entre alcançar estabilidade profissional e realizar o desejo de ser mãe representa um desafio para muitas mulheres. A pressão vem das aspirações pessoais e profissionais, mas também sociais, econômicas e biológicas. Como tomar esta decisão? O que ponderar? Quais as boas práticas que empresas podem promover que correspondem às demandas sociais de ESG em relação à igualdade de gênero? Entenda mais em nosso artigo!
Mulheres do século XXI: maternidade pode esperar?
Cada vez mais mulheres estão adiando a decisão pela maternidade em busca de alcançar planos individuais. Este fenômeno reflete uma mudança significativa nos valores e prioridades das mulheres modernas, que agora buscam educação e carreira tal qual os homens sempre buscaram. Adiar a maternidade pode trazer uma série de benefícios, tanto no âmbito profissional quanto pessoal.
Adiar a maternidade permite que as mulheres se concentrem em sua educação e carreira. Elas podem tanto investir por mais tempo em qualificação educacional, como também adquirir experiência e maturidade profissional antes de assumir a responsabilidade de cuidar de uma criança. Isso pode resultar em oportunidades profissionais mais amplas e melhor remuneradas no futuro. Ainda assim, de acordo com dados do IBGE, mesmo mais escolarizadas, mulheres têm menor participação no mercado de trabalho e recebem 21% menos que homens.
Por isso, adiar a maternidade é a possibilidade de encontrar tempo e capacidade mental de encarar essa balança tão desigual. Mulheres que têm a oportunidade de explorar suas paixões e interesses, e estabelecer uma base sólida em suas carreiras antes de se tornarem mães, muitas vezes se sentem mais confiantes e preparadas para enfrentar os desafios que a maternidade pode trazer.
Além disso, outro dado importante é que isso também tende a deixá-las menos suscetíveis à violências domésticas e violência patrimonial. Dados do Dossiê da Mulher no Estado do Rio de Janeiro mostram que as mulheres foram as principais vítimas do crime de violência patrimonial. O tipo mais comum de violência patrimonial foi o dano, representando 50,4% dos casos (2.383), seguido pela violação de domicílio, com 41,8% (1.973), e supressão de documentos, com 7,8% (369). Assim também, a residência foi o local onde ocorreu a maioria dos casos de violência patrimonial, totalizando 79,3%. Mais de metade desses casos ocorreu em contexto de violência doméstica e familiar, sendo classificados nos termos da Lei Maria da Penha.
Ou seja, mesmo com as mulheres optando por investir em maturidade pessoal e profissional, e um cenário de maior autonomia, os números são alarmantes.
Cada mulher tem suas próprias prioridades e circunstâncias únicas, portanto, qualquer que seja a escolha e o seu momento, é essencial que tenham o apoio necessário para alcançar seus objetivos. Mães também podem ter carreiras sólidas. Tal qual os pais que conseguem traçar esses planos paralelamente, mulheres mães também deveriam poder. Uma cultura de inclusão e apoio dentro das empresas pode garantir que todas as mulheres, independentemente de suas escolhas sobre maternidade, tenham oportunidades iguais de desenvolvimento e crescimento na carreira.
Com isso, também é importante reconhecer que adiar a maternidade pode trazer desafios e preocupações, especialmente no que diz respeito à fertilidade e saúde materna.
Quais fatores avaliar para tomada de decisão?
Para uma mulher considerar adiar ou não a maternidade, é importante ponderar diversos fatores que podem influenciar essa decisão. Antes de mais nada, cada mulher tem um realidade diversa e possibilidades diversas, e isso deve ser levado em consideração. Na realidade brasileira, 2 em cada 3 pessoas que não têm trabalho remunerado porque precisam se dedicar a afazeres domésticos e cuidado de pessoas são mulheres negras. Ou seja, recortes de classe e raça são importantes atravessadores desta decisão. Outro ponto fundamental que devemos salientar é que, embora não haja uma definição precisa, gravidez tardia ou adiamento da maternidade geralmente se refere a mulheres que engravidam após os 35 anos. Isso porque trata-se de uma faixa etária para a qual podem surgir desafios adicionais relacionados à fertilidade e à saúde materna e fetal.
Sendo assim, a primeira avaliação deve ser de compreensão sobre as metas estabelecidas. Elas são metas reais ou estão no campo do desejo? Tente colocar os planos em uma linha reta do tempo, é possível traçar datas de início e fim? Outro passo importante é fazer o mapeamento financeiro. Essa meta tem potencial de auxiliar ou somar estabilidade à sua sustentabilidade financeira com mais uma criança na conta?
Depois de analisar o terreno prático, hora de refletir nas subjetividades da maternidade. Considere sua saúde emocional e mental, reflita se você está e quer estar preparada para os desafios da maternidade neste momento. Caso seja necessário, procure a ajuda de um profissional especializado, um tratamento psicoterapêutico pode trazer novos elementos para considerar. Assim como também ajudar a fornecer maior segurança para tomar esta decisão. Avaliar a estabilidade do relacionamento atual e se o parceiro está pronto para assumir responsabilidades parentais também é de extrema importância. Tente entender qual o nível de apoio tanto para escolha pela maternidade como pela estruturação profissional. Nesse sentido, verifique se há uma rede de apoio sólida, como familiares, amigos ou recursos comunitários. Essas pessoas podem oferecer suporte durante a gravidez e nos primeiros anos de vida da criança.
Para a tomada de decisão, considere os aspectos biológicos, como a idade e a saúde reprodutiva. Esses fatores podem influenciar a capacidade de engravidar e ter uma gestação saudável. Entretanto, para melhor entendimento deste quadro, procure por profissional de saúde especializado e conheça todas as possibilidades. A medicina reprodutiva acumulou muitos avanços ao longo dos anos, diferentes tecnologias e métodos.
Por fim, a maternidade não está restrita ao vínculo consanguíneo. Portanto, mulheres que queiram esperar ou não, engravidar ou não, também podem ser mães de adoção. Logo, se a maternidade está em suas metas, não é sobre desistir, é tudo sobre planejar, e realizar.
Como as empresas podem atuar pela igualdade de gênero no mercado de trabalho?
Promover a igualdade de gênero não é apenas uma questão de justiça social, mas também está alinhado aos princípios ESG (Ambientais, Sociais e de Governança). Diretrizes que estão cada vez mais no centro das estratégias empresariais. Logo, empresas que adotam uma abordagem proativa para apoiar a igualdade de gênero contribuem para um mundo mais justo e inclusivo. Mas não só, elas também demonstram um compromisso com valores éticos e responsabilidade social. Ambos fatores são cada vez mais valorizados pelos investidores, consumidores e pela sociedade em geral.
Uma empresa pode implementar políticas e práticas que promovam a igualdade de oportunidades. Ações que tornem mais fácil a decisão pela maternidade e que reconheçam os desafios da jornada dupla. Para isso, é imprescindível garantir que mulheres e homens recebam salários justos e iguais por trabalho igual ou de igual valor.
Assim como também oferecer políticas de flexibilidade no trabalho, como trabalho remoto, horários flexíveis e licença parental remunerada. Vale dizer, licença para mães e pais, ou vínculo parental afetivo direto. E claro, sem nunca esquecer de garantir os direitos do retorno ao mercado de trabalho depois da licença, assim como respeitar as novas demandas que surgem com essa nova realidade.
Este é um debate bastante fundamental em nossa sociedade. É mais do que necessário incorporá-lo ao dia a dia das empresas como uma responsabilidade e uma visão de futuro.