Reunidos em Turim, na Itália, os ministros de Energia e Clima do G7 chegaram a um importante acordo de redução de carvão. O G7 é composto pelos sete países mais ricos do mundo, logo, uma decisão encabeçada por eles tem um potencial importante para toda a sociedade. Não só por impactar grandes economias, mas por serem um verdadeiro norte de referência para todos os outros países do mundo. O documento final do encontro registra o compromisso de estabelecer o ano de 2035 como prazo-limite para o fim da produção de eletricidade com carvão mineral. É uma decisão histórica, visto que se trata da maior fonte poluidora de energia do mundo, e um símbolo da Revolução Industrial. A decisão tem ressalvas, mas é um passo enorme para todo o globo. Veja mais sobre este acordo e suas ressalvas e, principalmente, o que isso significa para o Brasil? Continue nesta leitura!
G7: grandes decisões de grandes atores globais
Essa decisão marcante tomada pelo grupo mais potente do mundo reflete um reconhecimento global da urgência em abordar a crise climática. É urgente e deve ser um compromisso mundial promover a transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis. Embora o acordo permita algumas exceções, como a captura de carbono, a medida sinaliza um importante passo em direção a uma economia de baixo carbono. Além disso, destaca o compromisso dos países do G7 em liderar esforços concretos, o que induz outros países a também se alinharem. Reduzir as
emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos das mudanças climáticas é a base das políticas ESG, diretrizes contemporâneas aplicadas em todo o mundo.
O G7, ou Grupo dos Sete, é uma organização internacional composta por sete das maiores economias avançadas do mundo. São elas: Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. Este grupo se reúne regularmente para discutir questões econômicas, políticas e sociais globais.
Em termos de economia, os países do G7 representam uma parcela significativa do PIB global. Em 2021, o Grupo representava cerca de 46% do PIB global nominal. Assim também, desempenham um papel importante nos assuntos internacionais.
Nações herdeiras dos avanços a base de carvão do século VXIII, as políticas energéticas e a dependência de cada país do G7 variam. Alguns países reduziram significativamente o uso de carvão em favor de fontes de energia mais limpas. Por exemplo, a energia nuclear, solar e eólica tornaram-se opções para alguns deles, enquanto outros ainda dependem em certa medida do carvão para gerar eletricidade. Os Estados Unidos, por exemplo, têm uma grande capacidade de geração de energia a carvão. Ainda que nos últimos anos tenha aumentado o uso de gás natural e energias renováveis, ainda há um peso relevante no uso do carvão. O Japão é outro país do G7 que historicamente tem sido dependente do carvão para sua geração de energia. Já a Alemanha, por sua vez, está em processo de transição energética. Um dos países líderes no debate climática, os alemães já vem trabalhando em projetos que buscam reduzir gradualmente sua dependência do carvão.
Em geral, o uso de carvão pelos países do G7 têm diminuído à medida que buscam reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Afinal, o debate climático é um desafio há décadas. Além disso, implementar uma mudança como essa é bastante complexa e valorosa, e essas discussões foram avançando com o tempo. No entanto, taxar uma data limite para acabar com a produção é um verdadeiro marco.
Por que o carvão?
A Revolução Industrial foi um período de transformação socioeconômica que teve início na segunda metade do século XVIII. Ela se deu principalmente na Inglaterra, mas se espalhou por grande parte do mundo ocidental nos séculos seguintes. Esse período foi marcado por avanços tecnológicos, mudanças na produção agrícola e industrial, bem como urbanização acelerada.
A importância do carvão para esse marco histórico mundial foi imensa. O carvão mineral foi a principal fonte de energia durante a Revolução Industrial. A descoberta da sua efetividade em produzir energia impulsionou o crescimento da indústria, especialmente da indústria siderúrgica e têxtil. Antes da Revolução Industrial, a energia era obtida principalmente a partir da força humana, animal e de fontes naturais, como a água e o vento. No entanto, o carvão se tornou a principal fonte de energia devido à sua abundância, facilidade de extração e alto poder calorífico.
O carvão foi utilizado principalmente como combustível para alimentar as máquinas a vapor, que se tornaram essenciais para impulsionar locomotivas, navios, fábricas e minas. Essas máquinas a vapor permitiram a mecanização dos processos industriais, aumentando significativamente a produtividade e eficiência da produção. Além disso, o carvão também foi fundamental para a produção de ferro e aço, materiais essenciais para a construção de máquinas, equipamentos e infraestrutura necessários para a expansão industrial.Ou seja, uma substância que tornou a sociedade possível como é hoje, mas trouxe inúmeros efeitos colaterais devido à emissão de carbono, seu principal elemento. Um acordo de redução de carvão que vise o fim do seu uso, neste contexto histórico, é um potente compromisso.
Como o acordo de redução de carvão até 2025 impacta a produção de energia no Brasil?
No contexto da matriz energética brasileira, a decisão tomada no encontro do G7 pode parecer distante e, em certa medida, irrelevante para o país. Isso se deve ao fato de que o carvão tem uma participação extremamente pequena na geração de energia elétrica no Brasil. De acordo com dados do Balanço Energético Nacional (BEN) de 2023, o carvão mineral respondeu por apenas 2,1% da oferta total de energia elétrica no país em 2022. Em contraste, as fontes renováveis, como hidráulica, eólica e solar, contribuíram significativamente mais, totalizando impressionantes 86,1% da oferta.
Essa discrepância evidencia que o Brasil depende muito mais de fontes limpas e renováveis para sua geração de eletricidade do que de combustíveis fósseis, como o carvão. Enquanto o restante do mundo busca reduzir drasticamente sua dependência de fontes poluentes, o Brasil se destaca por sua matriz energética predominantemente limpa.
Tragédia climática no Rio Grande do Sul: a insistência de investimento em fontes poluidoras
O Brasil está há dias assistindo às devastadoras consequências da crise climática e da falta de políticas públicas centralizadas no meio ambiente. O Rio Grande do Sul está sofrendo um devastador marco dos efeitos climáticos em sua história. No entanto, quando o assunto é carvão, é preciso falar sobre o Rio Grande do Sul. Na contramão do acordo para redução do carvão, a atuação da legislação estadual quanto ao tema é bastante preocupante. Projetos de lei estão sendo tocados e aprovados de forma a incluir benefícios para esses combustíveis poluentes.
Apesar de o Rio Grande do Sul liderar o número de projetos de eólicas offshore apresentados ao Ibama, o estado abriga atualmente termelétricas a carvão, que foram responsáveis pelos maiores níveis de emissões entre as usinas a combustíveis fósseis em 2022, conforme dados do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). Essas usinas têm contribuído significativamente para a crise climática.
As eólicas offshore representam uma oportunidade para substituir a energia suja gerada pelo carvão no estado. No entanto, dos 31 deputados gaúchos na Câmara, 27 votaram a favor de um projeto de lei que incluía disposições favoráveis aos combustíveis fósseis. Além disso, há outro projeto de lei , o 4.653/2023, que visa fornecer subsídios ao carvão e a outros combustíveis fósseis até 2040. Os parlamentares justificam essa medida com a preocupação com os trabalhadores da indústria carbonífera do Sul. No entanto, estudos do Dieese indicam que seria mais econômico e ambientalmente sustentável requalificar e realocar essas pessoas em outras atividades.
O carvão e o Brasil: uma referência mundial
Embora a decisão do G7 seja um marco significativo na transição global para fontes de energia mais limpas, o Brasil pode se orgulhar da pequena participação do carvão em sua matriz energética. Isso não apenas ressalta a vantagem competitiva do país em termos de energia limpa, mas também destaca a necessidade contínua de investimento e desenvolvimento nesse setor. Apesar disso, os desafios brasileiros para contribuir na proteção ambiental são outros. Mas estes ficam para outro conteúdo aqui no Blog, fique de olho!