Observatório das Américas – Sob Biden, chega ao fim o longo conflito dos EUA no Afeganistão

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Por Christopher Mendonça, doutor em Ciência Política e professor de Relações Internacionais do Ibmec-BH

Na madrugada do dia 2 de abril de 2011, em uma cidade média do noroeste do Paquistão, cumpria-se um dos principais objetivos do serviço de inteligência dos Estados Unidos: a captura do líder extremista islâmico Osama Bin Laden. Ao longo de quase uma década de buscas pelo principal responsável pelos ataques que atingiram alvos estratégicos em solo americano muita coisa aconteceu.

Desde que a organização terrorista Al Qaeda assumiu a responsabilidade pelo maior atentado violento aos Estados Unidos, a nação mais poderosa do mundo se lançou em uma tarefa de fazer justiça às vítimas daquela ocasião, reforçando a sua liderança e capacidade militar na ordem internacional inaugurada com o fim da Guerra Fria. O presidente de turno, o republicano George W. Bush, desempenhou um papel de “protetor da nação” e investiu toda a sua força em uma invasão ao Afeganistão que começou em 2011, com a anuência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Ao cumprir o seu segundo mandato presidencial, George W. Bush legou ao seu sucessor o peso da guerra. Além da incursão no Afeganistão, os Estados Unidos haviam iniciado, também, uma ação no Iraque justificada pela necessidade de manutenção da paz e da ordem internacional. Quando o presidente Obama assume a Casa Branca, em 2009, um volume financeiro de grandes proporções já havia sido empenhado na execução de guerras e uma das promessas de campanha do então candidato democrata pautava-se na necessidade de revisão da presença americana nestas localidades.

A ação dos Estados Unidos no Afeganistão alterou consideravelmente o desenho institucional do país e custou mais de dois trilhões de dólares aos cofres americanos, de acordo com dados publicados pela Universidade de Brown. Embora não tenha conseguido finalizar a ação dos Estados Unidos no Afeganistão, o presidente Barack Obama desestabilizou as redes terroristas da região, a partir do assassinato de seus principais líderes, inclusive, do mais procurado deles, o saudita Bin Laden.

Ao longo do mandato presidencial de Donald Trump, iniciado em 2017, os debates sobre a retirada dos contingentes americanos do território afegão mantiveram-se ativos. Um acordo firmado entre Trump e os principais líderes do Talibã definia que até o dia 1º de maio do presente ano não haveriam mais tropas alocadas na região, o que não foi cumprido pela Casa Branca e gerou insatisfação por parte dos acordantes.

Ao assumir o governo americano, há pouco mais de três meses, o presidente democrata Joe Biden, que foi vice-presidente da República nos mandatos de Obama, retomou o ideal de retorno das tropas americanas. Em pronunciamento recente, Biden defendeu que a captura de Bin Laden foi o ponto mais alto do objetivo do país no combate ao terrorismo internacional. Além de criticar a durabilidade da ação – quase duas décadas – o novo presidente considera que o terrorismo tenha mudado a sua identidade, não sendo um fenômeno localizado e sim uma rede de fenômenos que se identifica de formas distintas no cenário internacional e precisa ser combatido de novas formas.

A confirmação oficial do fim da Guerra no Afeganistão se deu através de comunicado presidencial publicado em parceria com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que definiu o retorno de um contingente militar de cerca de 3 mil oficiais americanos remanescentes na região e de mais de 7 mil soldados sob ordens da OTAN em um prazo que se encerra na simbólica data de 11 de setembro de 2021. 

Publicado no JORNAL O TEMPO.

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