Há alguns anos, as relações entre China e Taiwan são marcadas por tensões em crescimento. Recentemente, novos episódios ligaram o alerta sobre os riscos envolvendo o conflito e o que isso significaria para a geopolítica mundial. O incidente envolvendo o barco turístico taiwanês King Xia e a guarda costeira chinesa próximo às ilhas Kinmen ilustra a complexidade e sensibilidade entre os países. À medida que a China busca minar a posição de Taiwan, a ilha reage. Neste contexto tenso, é fundamental compreender as dinâmicas em jogo e as potenciais implicações regionais e globais dessa contenda prolongada. Para falar sobre isso, conversamos com José Niemeyer, Coordenador de Relações Internacionais da Ibmec do Rio de Janeiro. Entenda a escala do conflito.
Quem é China e quem é Taiwan? Dimensões do conflito
Para começar a entender o tamanho do conflito que estamos analisamos, precisamos compreender quem são os países envolvidos. Nesse sentido, é fundamental lembrar que se trata de um conflito no oriente do globo. Essa divisão é mais do que apenas geográfica, mas, sobretudo, política. Equivocadamente, a cobertura midiática sobre a história e a realidade social de países orientais acabam não chegando tanto para o lado ocidente do mundo. E isso inclui nós, brasileiros do Sul Global, localizados na América do Sul.
A China é uma civilização milenar com mais de 4000 mil anos, e, atualmente, é a segunda potência mundial em termos de PIB e influência política. Ela desempenha um papel central no cenário internacional, e vale ressaltar é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Com sua história milenar e uma população de mais de um bilhão de pessoas. O país é conhecido por sua rápida industrialização e ascensão como uma potência tecnológica. Hoje, a cultura chinesa já integra toda a sociedade e tem influência crescente em organizações internacionais.
Por outro lado, Taiwan, oficialmente denominada República da China, é uma ilha localizada ao largo da costa sudeste da China continental. Após a Guerra Civil Chinesa em 1949, o governo nacionalista da China fugiu para Taiwan. Lá estabeleceu um regime separado do governo comunista firmado na China continental. Taiwan é reconhecida como uma entidade política distinta por alguns países. No entanto, a China a considera como parte inseparável do seu território, apesar de não exercer controle sobre ela.
O conflito entre China e Taiwan é um importante fator geopolítico mundial por várias razões. Em primeiro lugar, ele reflete o embate entre duas visões políticas e sistemas econômicos distintos. De um lado o regime comunista autoritário da China e, do outro, a democracia liberal e economia de mercado de Taiwan. Nessa conjuntura, os Estados Unidos mantêm laços militares e diplomáticos com Taiwan. Eles defendem sua segurança e estabilidade enquanto nação independente. Enquanto isso, a China busca aumentar sua influência global e desafiar a ordem internacional estabelecida.
Implicações globais e desafios para a estabilidade regional
Atualmente, as tensões entre China e Taiwan estão aumentando devido a uma série de incidentes que refletem essa complexa relação. Um dos eventos recentes que exacerbou essas tensões foi o incidente envolvendo o barco turístico taiwanês King Xia e a guarda costeira chinesa próximo às ilhas Kinmen. Este incidente específico ilustra a determinação de Pequim em desafiar a soberania e o controle de Taiwan sobre suas águas. Para José Niemeyer, existe sim uma possibilidade iminente de um conflito material entre as duas nações, mas, mais uma vez, com a participação dos EUA.
“Existe uma grande possibilidade de um conflito no estreito de Taiwan envolvendo China, Taiwan e Estados Unidos da América, se a China não concordar, e ao que parece não irá concordar, com a postura independentista de Taiwan, e o governo agora, recente eleito em Taiwan, tem uma agenda independentista, Taiwan buscará essa independência, a China vai se posicionar contra, inclusive na perspectiva militar, pode invadir a ilha para impedir a independência, e os EUA ficaram do lado de Taiwan, e aí é possível sim uma guerra naval entre China e EUA naquela região.” reafirma o coordenador de relações internacionais.
Portanto, a possibilidade de um conflito direto entre China e Taiwan torna-se preocupante, sobretudo, porque o confronto militar poderia arrastar outros atores, como os Estados Unidos, Japão e outras potências regionais para a questão. Essa situação seria bastante grave, de acordo com José Niemeyer. Isso porque, apesar de em um primeiro momento não significar uma guerra nuclear, ela pode ter grandes proporções naval e aérea. Além disso, o EUA passariam por um grande problema, pois teriam que manter uma terceira frente de conflito. Isso porque eles já estão envolvidos financeiramente, e também de logística, no conflito entre Rússia e Ucrânia, apoiando a Ucrânia, via OTAN. Bem como, na questão entre Hamas e Israel, apoiando Israel.
“Isso tem limite nos EUA, seja financeiro ou no orçamento de despesas, e também limites políticos, a sociedade norte-americana não quer. Cada vez mais a população quer ver os EUA longe dos conflitos internacionais e pensando mais na questão interna, inclusive isso tem muito a ver com uma possível vitória de Trump nas eleições deste ano.” complementa José Niemeyer.
Para o mundo, economicamente falando, este conflito também seria muito ruim. Taiwan é uma grande produtora de microchips e instrumentos de alta tecnologia, ligados à indústria de tecnologia. E isso pode impactar também o fornecimento da indústria do mundo todo, inclusive para o Brasil. Vai interferir na questão logística, pois uma guerra naquela região vai afetar toda a logística dos navios que passam por ali.
Em suma, o conflito entre China e Taiwan é um importante fator geopolítico. O potencial de gerar consequências significativas em várias áreas, afetando não apenas a região da Ásia-Pacífico, mas também o mundo todo. É crucial que os atores internacionais trabalhem para mitigar as tensões e encontrar soluções pacíficas para os desafios enfrentados pela região.
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