A dívida da Gol e a crise enfrentada pela companhia aérea reflete não apenas os desafios do setor, como também aspectos da economia global. A crise, caracterizada por dívidas bilionárias, fazem da Gol a materialização de dificuldades enfrentadas por muitas empresas. Principalmente, aquelas cujo setor encara um cenário de incertezas econômicas. A situação da Gol não é isolada; ela é sintomática das turbulências causadas pela pandemia de COVID-19 e seus efeitos duradouros sobre diversos setores. Em entrevista para o portal UOL, Samuel Barros, doutor em administração e reitor do Ibmec Rio de Janeiro falou sobre o assunto. Vamos conferir?
Qual é a condição empresarial da Gol neste momento?
Atualmente, a Gol enfrenta uma crise financeira significativa, evidenciada pelo anúncio de um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Ela usou um processo conhecido como Chapter 11. Trata-se de um capítulo do Código de Falências dos Estados Unidos que regula o processo de recuperação judicial para empresas. Esse processo é projetado para permitir que uma empresa em dificuldades financeiras reorganize suas operações. Bem como estabilize suas dívidas enquanto continua suas operações comerciais. Durante o Chapter 11, a empresa mantém o controle de suas operações e ativos, sob a supervisão do tribunal de falências. É um recurso comum e já foi utilizado pela Latam em 2020.
Com essa ação, a Gol busca reestruturar suas finanças diante de uma dívida bilionária. O valor exato não foi divulgado, mas a estimativa é de que atingira R$ 20,227 bilhões em setembro do ano anterior. A crise é atribuída a diversos fatores, incluindo os impactos da pandemia de COVID-19. Durante a pandemia e ao longo de meses de isolamento social, reduziu-se drasticamente a demanda por viagens aéreas. Além disso, a adaptação do setor às recomendações sanitárias, mais questões estruturais do setor e a dificuldade de acesso a financiamento resultaram neste cenário.
A Gol espera utilizar um financiamento de US$ 950 milhões, aproximadamente R$ 4,6 bilhões, para reestruturar suas obrigações financeiras de curto prazo. E também fortalecer sua estrutura de capital visando à sustentabilidade a longo prazo. A manobra do Chapter 11 leva a empresa a assegurar que suas operações continuam normalmente. A empresa segue com voos operando conforme o programado e passagens aéreas e reservas mantidas.
“A Gol está em discussões com seus stakeholders financeiros sobre diversas opções que tragam maior flexibilidade financeira, incluindo capital adicional para financiar as operações. Todas as ações visam posicionar a Gol para o sucesso de longo prazo, à medida que a Companhia continua a cumprir sua missão de democratizar o transporte aéreo no Brasil.” Declaração oficial dada em nota pela empresa Gol.
Para Samuel, a dívida acumulada de R$3 bilhões, com vencimento em menos de 12 meses, é um sinal de risco para o mercado. “Avaliando comportamentos anteriores do caixa da Gol e as expectativas para o ano de 2024, ela tenderá a ter dificuldades para arcar com esses vencimentos de R$3 bilhões, o que eleva bastante o risco da empresa no mercado.” Comenta o reitor.
Mais de 20 anos de história: a história da GOL no setor de aviação
A Gol Linhas Aéreas é uma das principais empresas do setor de aviação no Brasil, fundada em 2001. Ela é conhecida por sua presença marcante no mercado nacional e internacional. Com sede em São Paulo, a Gol é uma empresa brasileira que atende milhões de passageiros anualmente.
A importância da Gol para o mercado de aviação é indiscutível. Como uma das maiores companhias aéreas do país, a Gol conecta o Brasil e o mundo. Sua extensa malha de voos abrange destinos domésticos, o que é muito significativo visto o tamanho do território brasileiro. Mas também rotas internacionais, contribuindo para o desenvolvimento econômico e turístico do Brasil.
Por meio de estratégias como a oferta de tarifas acessíveis, a empresa tem buscado tornar as viagens aéreas uma realidade para a população. Essa orientação de mercado impactou diretamente a vida do brasileiro e cooperou com o maior acesso da população aos serviços de transporte aéreo.
O caminho para a quitação da dívida da Gol e a reestruturação da empresa
O ponto de vista que Samuel Barros destaca é que a recuperação judicial pode oferecer uma saída promissora para a Gol. Embora, normalmente, investidores vejam esse cenário com cautela, o processo de reestruturação tem o potencial de abrir “novos horizontes” para a empresa, fortalecendo sua saúde financeira.
Entretanto, a resposta do mercado não é livre de receios. O que se sinalizada é uma preocupação com o histórico da Gol em negociações e renegociações. Diversos stakeholders, incluindo acionistas, já passaram pela situação da empresa não conseguir cumprir totalmente os compromissos firmados. Logo, essa condição levanta questionamentos sobre a real capacidade da empresa de honrar seus compromissos no futuro.
“O que mais deixa o mercado preocupado, no caso da Gol, é que ela no passado já havia negociado e renegociado com diversos stakeholders [acionistas] e não conseguiu cumprir com parte desses acordos, isso aumenta o risco no processo.” declarou Samuel Barros.
As importantes influências de um acordo bem-sucedido
A crise da Gol destaca questões estruturais e operacionais que vêm desafiando o setor há anos. O que inclui alta competição, custos operacionais elevados e dificuldades de acesso a financiamento. Portanto, a situação da Gol tem repercussões significativas para a economia brasileira na totalidade, sobretudo o êxito dessa negociação. Como uma das principais companhias aéreas do país, sua capacidade de se recuperar e se fortalecer pode influenciar não apenas o mercado de aviação, mas também setores relacionados, como o turismo, o comércio e a indústria.
Para continuar acompanhando o caso, acesse nosso Blog e as redes sociais do Ibmec.